Segundo a Polícia Federal, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) monitorou políticos e autoridades entre 2019 e 2021, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A ação usava o software espião FirstMile, não tinha autorização da Justiça e os servidores agiam com objetivos políticos, de acordo com a investigação.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), expôs alguns alvos da ação ilegal da Abin em decisão. Nem todas as autoridades foram citadas pelo magistrado, mas a determinação indica que outros políticos foram monitorados pelo software espião.
Um dos espionados foi Camilo Santana, então governador do Ceará e atualmente ministro da Educação. Segundo a PF, um servidor que controlava o sistema FirstMile foi flagrado “pilotando um drone” próximo à sua casa.
O próprio ministro do Supremo foi alvo da Abin. O nome de Moraes foi encontrado em anotações que indicam a tentativa de associá-lo, junto de outras autoridades, à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Também magistrado da Corte, Gilmar Mendes foi incluído na lista de monitorados e, segundo as investigações, “houve a tentativa de vinculação” de seu nome ao PCC.
“O arquivo ‘Prévia Nini.docx’ mostra a distorção, para fins políticos, da providência, indicando a pretensão última de relacionar a advogada Nicole Fabre e os Ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC, alimentando a difusão de fake news contra os magistrados da Suprema Corte”, aponta a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Rodrigo Maia e Joice Hasselmann, então deputados federais e tidos como adversários políticos do ex-presidente, também foram monitorados pelo software espião.
Jair Renan e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filhos do ex-presidente, são apontados no inquérito como beneficiários do uso da ferramenta. Segundo a PF, a Abin utilizou o programa para dar informações ao 04 sobre uma investigação que apurava tráfico de influência contra ele.
“Noutros termos, o presente evento corrobora a instrumentalização da ABIN para proveito pessoal. Neste caso o intento era fazer prova em beneficio ao investigado RENAN BOLSONARO”, diz a PF.
O senador, por sua vez, teria recebido um relatório para auxiliar sua defesa no caso das “Rachadinhas”. “Relatórios para subsidiar a defesa do Senador Flávio Bolsonaro em caso que ficou conhecido como ‘Rachadinhas’, com o que o órgão central de inteligência teria sido empregado para finalidades alheias às institucionais”, diz a PGR.