Quando Albert Einstein denunciou o genocídio palestino

Atualizado em 16 de outubro de 2023 às 12:04
Albert Einstei foi uma das mentes mais brilhantes da história (Foto: Commons/Wikipedia)

Extraído do livro Einstein Socialista: entrevistas, manifestos e artigos do maior cientista do século XX (Autonomia Literária, 2023).

Entre os fenômenos políticos mais perturbadores do nosso tempo está a emergência, no recém-criado Estado de Israel, do Herut [חֵרוּת], o “Partido da Liberdade”, agremiação política fortemente aparentada, em sua organização, métodos, filosofia política e apelo social, a outras organizações políticas nazistas e fascistas [N.E.: o Herut foi sucedido pelo Likud, após uma fusão com outros partidos, o qual é o partido do atual premiê israelense Benjamin Netanyahu]. O partido se formou a partir de membros e seguidores da antiga Irgun [ארגון], na Palestina, uma organização terrorista, de direita e chauvinista.

Benjamin Netanyahu. (Foto: Reprodução)

A atual visita de Menachem Begin, seu líder, aos Estados Unidos, é obviamente calculada para dar a impressão de haver suporte estadunidense nas eleições israelenses que estão por vir e firmar laços políticos com elementos sionistas conservadores nos Estados Unidos. Muitos estadunidenses de prestígio emprestaram seus nomes para dar boas-vindas ao político. É inconcebível que aqueles que se opõem ao fascismo no mundo, se estiverem corretamente informados sobre o histórico e as perspectivas políticas do senhor Begin, possam associar seus nomes e dar apoio ao movimento que ele representa.

Antes que danos irreparáveis sejam feitos por meio de contribuições financeiras e manifestações públicas favoráveis a Begin, e que se crie na Palestina a impressão de que um grande setor nos Estados Unidos apoia elementos fascistas em Israel, o público estadunidense deve ser informado do histórico e dos objetivos do senhor Begin e de seu movimento.

As declarações públicas do partido de Begin não servem como guia para o real caráter da organização. Hoje os membros do partido falam em liberdade, democracia e anti-imperialismo, ao passo que, até pouco tempo atrás, pregavam abertamente uma doutrina de Estado fascista. É em suas ações que o partido terrorista denuncia seu verdadeiro caráter; por meio de seus atos passados é possível julgar o que podemos esperar que ele faça no futuro.

Ataque a uma vila árabe

Um exemplo chocante foi a conduta que o grupo teve em Deir Yassin. Essa vila, que fica afastada das principais estradas e cercada por terras judaicas, não se envolveu na guerra, e até combateu bandos árabes que queriam usá-la como base. Em 9 de abril (segundo o New York Times), bandos terroristas atacaram esse lugar pacífico que não era um objetivo militar no conflito, assassinaram a maior parte de seus habitantes – 240 homens, mulheres e crianças –, e mantiveram alguns deles vivos para que desfilassem como prisioneiros pelas ruas de Jerusalém. A maior parte da comunidade judaica ficou horrorizada com tal ato, e a Agência Judaica enviou um telegrama pedindo desculpas ao rei Abdullah, da Transjordânia. Mas os terroristas, longe de se envergonhar por seus feitos, ficaram orgulhosos do massacre, divulgando-o amplamente, e convidaram todos os correspondentes estrangeiros presentes no país a ver o amontoado de cadáveres e a devastação generalizada na vila.

O incidente de Deir Yassin exemplifica o caráter e os atos do Partido da Liberdade.

No interior da comunidade judaica, os integrantes do partido vêm pregando uma mistura de ultranacionalismo, misticismo religioso e superioridade racial. Assim como outros partidos fascistas, eles estão esmagando greves e fazendo pressão para a destruição de sindicatos. Em proveito próprio, propuseram a criação de sindicatos corporativistas no modelo fascista italiano.

Durante os últimos anos de violência antibritânica esporádica, os grupos Irgun e Stern inauguraram um reino de terror na comunidade judaica da Palestina. Professores foram espancados por proferirem falas contrárias a esses grupos, e adultos foram fuzilados por não permitirem que crianças se juntassem a eles. Usando de métodos criminosos, espancamentos, depredação de janelas e saques, os terroristas intimidaram a população e lhes extorquindo pesados espólios.

Os integrantes do Partido da Liberdade não tiveram participação nas conquistas construtivas na Palestina, não recuperaram qualquer terra, não construíram assentamentos, apenas prejudicaram a atividade de defesa judaica. Suas muito divulgadas iniciativas de imigração foram pontuais, e dedicadas principalmente a trazer compatriotas fascistas.

Discrepâncias à mostra

A discrepância entre as reivindicações ousadas que agora são feitas por Begin e seu partido e o histórico de sua performance na Palestina sustenta a impressão de que não se trata de um partido político comum. Ele possui a marca inconfundível de uma agremiação fascista que tem o terrorismo (contra judeus, árabes e britânicos, na mesma medida) e a manipulação com meios para atingir o objetivo de tomar o Estado.

Sob a luz das considerações expostas acima, é imperativo que a verdade sobre o senhor Begin e seu movimento se torne conhecida neste país. É ainda mais trágico que a liderança máxima do sionismo estadunidense tenha se recusado a fazer campanha contra os esforços de Begin, ou até mesmo a expor a seus próprios componentes os perigos que Israel corre ao apoiá-lo.

Os abaixo-assinados, assim, vem por meio deste apresentar publicamente alguns fatos relevantes que dizem respeito a Begin e seu partido, bem como a urgência de exortar todos os interessados a não apoiar esta manifestação mais recente do fascismo.

Publicado originalmente em Jacobin Brasil

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