Matteo Salvini é um xenófobo de mão cheia. Separatista, ganhou a mídia como líder do movimento Lega Nord que almejava a independência da região norte da Itália.
Não obteve sucesso na empreitada, porém o movimento tornou-se um partido político e Salvini foi eleito vice primeiro-ministro.
É ele o monstro que proibiu que o navio Aquarius aportasse no país e deixou 629 pessoas durante semanas no mar. A embarcação tinha mulheres grávidas e muitas crianças. Salvini estava cumprindo sua promessa de campanha, na qual se comprometeu a expulsar nada menos que 600 mil imigrantes.
É autor de um decreto-lei que está em vigor desde outubro, chamado ‘Decreto Salvini’, que entre outras excrescências, aboliu a chamada ‘proteção humanitária’, suspendeu os pedidos de refúgio e aumentou o tempo de reclusão dos migrantes, uma medida que torna esses espações em análogos aos campos de concentração. É daí pra baixo.
Pois bem, é este amor de pessoa que olha enviesado para Jair Bolsonaro.
“Eu condeno os torturadores”, disse o italiano durante uma coletiva de imprensa em Roma. Naquele momento ele estava falando de Bolsonaro.
Como a justificar também sua eleição pelos italianos, Salvini praticou a retórica clássica:
“É muito curioso o fato de que, quando uma parcela da sociedade escolhe o candidato, fala-se em democracia, liberdade, futuro, progresso, direitos. Quando é alguém que não agrada o ‘politicamente correto’, fala-se em regressão, fascismo, nazismo, ultranacionalismo. Os brasileiros votaram. Viva o voto livre dos brasileiros”, declarou.
Entretanto, como de praxe ocorrer quando se elogia alguém pouco ou nada elogiável, Salvini fez a ressalva. Afirmou que não concorda com a exaltação ao torturador coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra que volta e meia Bolsonaro & Filhos propagam.
Vamos lá: condena, mas apoia. Essa contradição é corrente entre os bolsonaristas e mostra como (não) funciona o cérebro dessa turma.
Ditadura, tortura, preconceito, xenofobia, racismo, tudo isso é indissociável ao capitão reformado que dispara sandices há no mínimo três décadas. Não dá para apoiar se você condena isso tudo, certo?
Salvini morde e assopra pois ele tem duas intenções. Ao tecer loas ao ‘voto democrático’ dos brasileiros, está afagando seu eleitor também, que possui perfil gêmeo.
O segundo ponto é que Matteo Salvini está salivando pela extradição de Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua por quatro homicídios na Itália nos anos 70.
Battisti integrava o grupo armado Proletários Armados pelo Comunismo e Jair Bolsonaro, durante sua campanha presidencial, prometeu:
“Reafirmo aqui meu compromisso de extraditar o terrorista Cesare Battisti, amado pela esquerda brasileira, imediatamente, em caso de vitória nas eleições”.
Ontem, enquanto Bolsonaro era diplomado e Salvini (que foi o primeiro a cumprimentá-lo após a eleição) dava entrevista, o italiano cobrou:
“Espero que seja finalmente uma boa notícia para os italianos, porque um condenado à prisão perpétua que, sem respeito pelas vítimas, aproveita a vida nas praias do Brasil, me deixa tão nervoso que nem posso explicar. Se, depois de tantos anos de conversa, as autoridades brasileiras ajudarem a Itália a ter justiça, vou atribuir o mérito ao presidente brasileiro” disse Salvini, o homem nervoso que exige ‘respeito às vítimas’ e mantém crianças em um cativeiro flutuante.