Por Moisés Mendes
Uma frase saltou e ficou latejando, entre as muitas ditas pela delegada Camila Cecconello sobre a conclusão do inquérito do crime de Foz do Iguaçu.
A delegada disse o seguinte, falando das conclusões que foram tiradas a jato pela polícia:
“Segundo as investigações, o agente penal teria dito para a esposa ‘isso não vai ficar assim’, ‘ele nos provocou, nos humilhou, eu vou retornar’.”
É a partir daí que a delegada tenta convencer, inclusive a extrema direita, que o assassino José da Rocha Guaranho agiu por motivo torpe, por impulso e sob violenta emoção, mas não por motivação política.
A policial não vê nem premeditação na morte de Marcelo Arruda. Viu que o homem ficou brabo e humilhado. Não há ódio, há sentimento de humilhação.
Não viu o bolo com Lula, a camiseta da vítima, a festa temática, o assassino bolsonarista gritando que Bolsonaro é mito e o retorno do sujeito, depois de 15 minutos para pensar, disposto a matar quem ele considerava inimigo.
A delegada só viu o impulso de um homem humilhado, disposto a provar para a mulher que é valente.
É difícil a situação da delegada, que está sendo humilhada por juristas, segundo os quais a única motivação é mesmo a política.
Foi um crime consumado por um fascista que agiu por ódio político.
O governo do Estado, que controla as polícias, entregou à delegada uma tarefa destruidora.
A autoridade deveria fechar o inquérito com rapidez, para conter especulações, e concluir o que foi concluído.
Não dá para assimilar com naturalidade. O guarda foi morto dia 9, um sábado. O inquérito ficou pronto na quinta-feira, dia 14. Foram ouvidas 17 pessoas.
Desde que assumiu o caso, a delegada trabalhou durante três dias. Apenas três dias. Somente três dias.
Nunca antes na história da polícia paranaense um inquérito andou tão rápido. Andou mais rápido do que a tramitação do processo do tríplex contra Lula no TRF4.
Até a Globo ironizou a decisão da delegada, ao noticiar a conclusão do inquérito no Jornal Hoje, nessa sexta-feira.
Enquanto um repórter narrava o que a delegada havia dito, descartando a motivação política, o jornal mostrava uma imagem da festa de Marcelo Arruda, com Lula, a estrela do PT e tudo a que um militante petista tem direito.
É como se Globo dissesse à delegada: aqui está, explicitada, descarada, a motivação para o crime.
Claro que, se o Ministério Público atuar de forma independente, irá corrigir, segundo o Grupo Prerrogativas, as barbeiragens da delegada. Vamos chamar de barbeiragens.
O interessante é que o MP queria que o andamento do inquérito fosse mantido sob sigilo, o que foi negado pela Justiça.
O que teremos a partir de agora? Um debate interminável, que só vai expor a fragilidade do inquérito e desgastar a polícia paranaense.
Até porque alguns juristas formalistas dizem que o caso não pode, pelo Código Penal, ser classificado como crime político.
Mas não é desse formalismo que se fala. O que se levanta, desde o começo, é que a motivação é política. E potencializada por ódio a quem pensa diferente.
O assassino foi movido pelo desejo de levar adiante uma afronta política, a partir do momento que vai provocar o adversário em sua festa. Não há como encontrar outro motivo.
O que se tem é que, com ou sem pressa, a delegada parece ter sido orientada a produzir o que o Prerrogativas diz ter sido uma peça para “escamotear de forma pueril a realidade”.
Um governo, que passa e vai embora, não pode submeter uma servidora pública concursada a uma tarefa tão constrangedora e destruidora.
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