Quando o medo dá de goleada na esperança. Por Fernando Brito

Atualizado em 8 de abril de 2019 às 9:20

PUBLICADO NO TIJOLAÇO

Os novos dados da pesquisa Datafolha, agora sobre as perspectivas econômicas do país e o desemprego podem ser traduzidos numa expressão simples: reversão das expectativas que sempre acompanham uma mudança de governo por eleição. Afinal, a escolha foi feita pela população.

Considere-se que, com desemprego nas alturas, também a opção “vai ficar como está”, resposta de outros 21%, também significa pessimismo.

Cantou-se, repetidamente, como um bordão emburrecedor, que as “reformas” neoliberais nos salvariam da recessão e, sucessivamente, o “teto orçamentário”, a cassação de direitos trabalhistas e, agora, a mutilação da Previdência não conseguiram produzir senão a estabilidade no caos que, neste momento, começa a se inclinar para novo escorregão para baixo.

O sentimento revelado pela pesquisa está em linha com os fatos da economia real, embora não com o cassino financeiro que, normalmente, é apontado como indicador de expectativas econômicas.

“As empresas estão indo embora”, disse ontem Elio Gaspari. ”Este país precisa desesperadamente de crescimento econômico”, escreveu Janio de Freitas. Quando as visões de dois analistas tão díspares convergem é sinal de que saiu-se do terreno das opiniões para o da obviedade.

A menos de 100 dias de novo presidente, estamos vivendo o paradoxo de termos um governo já carente de legitimidade. E o que ele promete fazer – porque, até o momento, nada fez – na economia, em nome do alívio imediato das contas públicas, será também fonte de mais desgaste.

Não se pode precisar a velocidade com que virá, mas está bastante claro que caminhamos para um estado de convulsão, porque a esperança é o única barragem que a ele se opõe num quadro de carências como o do Brasil.

E a esperança está perdendo para o medo.