Quando Romário vira a grande esperança política, é porque a coisa está mesmo feia

Atualizado em 12 de maio de 2013 às 20:54

A retórica inútil e vazia do Baixinho.

Ele
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No universo do futebol, quem é que dá o bom exemplo? Romário é que não é. Não deu e não dá. É verdade que ele tem surpreendido com sua atuação como deputado federal, fazendo denúncias e solicitando transparência à Confederação Brasileira de Futebol, usando seu cargo para tentar influenciar nas questões esportivas. Mas fala muito. E faz de menos.
Volta e meia, volta sua artilharia para a sua vítima favorita: Pelé. Aproveitou-se de um comentário do rei, em que defendia que a seleção brasileira usasse como base o time do Corinthians, para manifestar-se de maneira exageradamente agressiva. Tudo bem, deputados federais podem sim ter opiniões sobre futebol, principalmente aqueles egressos do esporte. Mas chamar Pelé de “boçal” por ter emitido uma simples opinião? Isso se faz em boteco, depois da terceira cerveja.

Romário gosta de usar a força. Em 2009, ele foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça a pagar 30 mil reais a um torcedor do Fluminense que, em 2003, atirou galinhas vivas ao gramado das Laranjeiras. Na ocasião, Romário, ele mesmo, com ajuda de seguranças, subiu na arquibancada e “pegou de pau” o infeliz torcedor. Enumerar os escândalos e arbitrariedades do Baixinho durante seu período de jogador é cansar o leitor. Frequentemente partiu para a porrada com seus colegas de profissão e até de clube — como fez com o zagueiro Andrei, do Fluminense, em 2002, no meio do jogo contra o São Paulo, no Morumbi.

Fugiu de concentrações, foi preso por não pagar pensão, brigou com técnicos dentro e fora do Brasil, ofendeu torcedores, foi acusado de “pegar” mulheres de colegas de profissão, aprontou nos hotéis em que se hospedava e, claro, foi fulminante ao atacar ídolos que estavam quietos em seus respectivos tronos, como Ronaldo, Zico e Pelé. Enfim, o seu currículo de baixarias é tão grande quanto as proezas que fez em campo, como os mil gols que diz ter feito. E em nenhum momento mostrou a sabedoria e sobriedade do arrependimento — ao contrário, jactou-se de suas frases de efeito, como se quisesse imortalizar-se também desta forma.

Tudo bem. O passado foi-se e Romário saiu dos campos como um “novo homem”. Depois do nascimento de sua filha, Ivy Bittencourt, hoje com 8 anos de idade, portadora da síndrome de Down, Romário “humanizou-se”. Enfrentou situações de preconceito e soube encará-las com a valentia de um pai. Adotou a causa e, de certa forma, buscou um engajamento político.
Mas, apesar dos elogios que merece por sua combatividade, Romário ainda ultrapassa os limites que lhe cabem, como fez constantemente como jogador. Dizer que “Pelé calado é um poeta” teve a sua graça, mas ele não só repete a frase, como também cita a si mesmo, certo de que alcançou a sabedoria.

A briga que empreende contra a CBF é, também, uma briga de palavras. Não há, de fato, na sua atividade, uma proposta clara e adequada para corrigir o comportamento da entidade e resolver as dúvidas que existem sobre os dirigentes. Agudo em suas manifestações, pede prisão, pede auditorias, pede transparência e pede intervenção. Mas não mobiliza, de fato, uma ação objetiva e política para que suas denúncias tenham realmente efeito prático — como seria de se esperar de um deputado federal. A sua arma principal tem sido o palanque do Twitter, no qual adora tanto emitir torpedos ofensivos como convidar seus amigos para uma partida de futevôlei. Assim mesmo, sem critério.

Romário já teve sua dose de visibilidade como jogador e, tudo indica, também como deputado. Até que ponto ele vai fazer render essa aura de revoltado e combativo que tem construído em seus dois anos de mandato — e não se deixar encantar mais ainda pelas próprias palavras, pelo visibilidade das agressões gratuitas, pela bazófia e pela agressividade inútil?