O ataque à Catedral Metropolitana de Campinas que resultou na morte de cinco pessoas, incluso o atirador, é o prelúdio de uma espécie de sociedade para-militarizada em que uns se armam para matar, outros se armam para morrer, quando não os dois.
É óbvio que ainda é muito cedo para apontar as motivações para a tragédia em que um homem solitário fortemente armado vai a um espaço público e dispara contra pessoas inocentes.
Mas independentemente das causas, não é preciso ser um gênio da segurança pública para imaginar os efeitos de uma política governamental que eleva à enésima potência a quantidade de desequilibrados com porte de arma facilitado.
E aqui é preciso entender com mais clareza o amplo conceito de “desequilibrado”.
Ainda que Euler, o serial killer da vez, seja também uma vítima clássica de problemas psicológicos num universo de transeuntes claramente doentes, os ditos “sãos” no novo normal do cotidiano brasileiro – mundial, talvez – não se mostram necessariamente menos violentos.
Gente que vaticina diariamente contra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, contra a igualdade de gênero, cor, etnia, religião e orientação sexual, que grita a plenos pulmões que “bandido bom é bandido morto” e que imagina que um mundo mais seguro é um mundo com mais (e não menos) armas, não pode ser exatamente definida como uma classe de pessoas razoáveis, serenas e… equilibradas.
A título de exemplo, quem em sã consciência lançaria suas mãos ao fogo por um sujeito como Pedro Bellintani Baleotti, o típico classe média hétero, branco e estudante de direito que no dia da votação ameaçou matar “essa negraiada”?
Esse é apenas um único exemplo e é principalmente a esses indivíduos justamente a quem Jair Bolsonaro promete garantir o “direito” de portar quantas armas quiser para a sua “própria defesa”.
Do mais a mais, o fato de Onyx Lorenzoni vir a público dizer que o ataque à igreja não muda em nada a disposição de Bolsonaro em liberar armas, só mostra que o futuro governo sofre de problemas de ordem emocional ainda mais graves do que o próprio Euler.
Nessa doentia submissão ao governo e ao estilo de vida norte-americano, provado está que o máximo da “cultura” estadunidense que Bolso e sua trupe de perturbados conseguirão trazer para o Brasil é a dos lunáticos que cometem chacinas desenfreadas num belo dia de sol.
E dessa forma, entre o servilismo imperial e a hostilidade contra as minorias de seu próprio país, vai-se construindo um protótipo de Estado movido à violência em que se retroalimenta de preconceito, racismo e ódio.
Nessa espiral autodestrutiva, a única coisa que ainda não está definitivamente clara é: quantas mortes serão necessárias para que a ânsia de sangue do futuro presidente seja completamente saciada?