“Eu devo dizer a vocês que quanto mais a mídia bate em mim, mais eu posso ser candidato a presidente. Todo dia tem notícia que eu estou rico, que eu sou ladrão. Só gostaria que essas pessoas tivessem o mesmo respeito que eu tenho por elas. Gostaria que respeitassem minha família”, disse Lula no protesto contra Temer na Avenida Paulista na sexta (10).
Quando o ex-presidente tocou no assunto de sua candidatura, falando mais pausadamente, o público entrou em êxtase e gritou com força. Muitos berravam “volta, Lula”. Aquele discurso foi o segundo dele na Paulista depois de 14 anos da sua posse como presidente da República, em 2003, quando também falou com a avenida.
Lula subiu diante do povo às 19hrs. O protesto havia começado às 17hrs.
Além de lançar sua possível candidatura e criticar a mídia, Luiz Inácio Lula da Silva não poupou Sergio Moro e as autoridades de Curitiba. “Não há nada mais nocivo que uma aliança entre a imprensa e os promotores do Ministério Público”, frisou.
Lula voltou a apontar que Michel Temer não age como presidente interino. Ele não vê solução para o país cortando ministérios e acha que, se fosse para cortar cargos no governo, deveria na Fazenda, no Planejamento, e não em outras pastas que representam menos gastos.
O ex-presidente realçou que os movimentos sociais fortes na rua atualmente são dos negros, das mulheres e dos LGBTs. Justamente as minorias que não são representadas nos ministérios de Temer.
Ao falar de Michel Temer, Luiz Inácio Lula da Silva fez uma comparação entre o interino e Fidel Castro. Ele disse que Temer agiu como o líder cubano quando marchou até Havana em 1959. “Mas Castro fez uma revolução, o que ele fez foi um golpe de Estado”.
Lula diz que essa mentalidade reacionária vem do período da ditadura militar. Afirmou que em 1964 ouviu sobre a “caça aos comunistas” e que não tinha entendido o que aquilo representava. Com a retomada democrática, ele acredita que as políticas voltadas aos mais pobres são mais eficientes. E completou sua fala afirmando que os “coxinhas” estão “envergonhados com o presidente Temer”.
O ex-presidente também discursou duramente contra José Serra, atual ministro de Relações Exteriores de Michel Temer e seu antigo rival nas eleições. Chamou o chanceler de “vira-lata” por exaltar as relações com os Estados Unidos e por diminuir as políticas diplomáticas de seu governo com países sul-americanos.
Aquele discurso na Avenida Paulista foi uma reflexão dele sobre o golpe e o papel da esquerda nas ruas e nas urnas nos próximos dias.
Acabada a fala de Lula, a Paulista já somava 100 mil pessoas no protesto que pedia a queda do governo Temer. A avenida fechou com tanta gente. A estimativa era dos organizadores, enquanto a Polícia Militar não divulgou números.
Na mesma noite de sexta-feira, o procurador Rodrigo Janot enviou um parecer pedindo que o STF mande ao juiz Sergio Moro a denúncia contra o ex-presidente Lula. No documento, ele teria atuado para evitar a delação do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, na Operação Lava Jato.
A decisão do caso está nas mãos do juiz Teori Zavascki, relator do processo. Se Dilma não cair no processo de impeachment e convocar eleições gerais, Lula realmente pode se lançar como candidato.
Porque o tiroteio na grande mídia contra ele não dá sinais que vai parar.