Publicado no Vatican News
“Estou em Campinas/SP. São 16h49 desta terça-feira (24). Estou dentro do meu quarto escrevendo, pois em virtude do coronavírus temos que ficar isolados para evitar o contágio. Tenho 63 anos. Meu nome é Marcos Antonio de Oliveira, casado com Maria Isabel e pai de 4 filhos. E já somos avós de 4 netos! Uma família unida na fé e na esperança.”
Assim começa uma das centenas de mensagens que recebemos diariamente, via e-mail, aqui na redação brasileira do Vatican News. Além de descrever atitudes de isolamento domiciliar sugeridas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para enfrentar a pandemia do Covid-19, Marcos contou que também procura compartilhar mensagens de fé, esperança e solidariedade através das redes sociais.
Ele criou uma página no Facebook que leva o nome de “Ser Caridade”, como mais uma forma de usar o isolamento “para se encontrar com Deus e buscar a renovação do espírito e crescimento da alma, em direção de um novo tempo”. Marcos acredita que as pessoas precisam retomar valores que até então teriam se distanciado: que “os homens possam refletir sobre a caridade e o amor, sentimentos fundamentais na relação humana”.
A caridade cristã
Em artigo divulgado pelo site da CNBB, o bispo da diocese de Lages/SC, dom Guilherme Werlang, reforça o empenho com a caridade durante a Quaresma, um dos tempos mais importantes da liturgia cristã: um tempo de revisão de vida, mudança de atitudes e comportamentos.
O bispo lembra que o tripé dos exercícios quaresmais – a oração, o jejum e a caridade, é, sem dúvida, o que hoje a humanidade mais precisa. Para Dom Guilherme, a caridade (ou esmola) se destaca porque, quem tem estabilidade de emprego, até vai poder atravessar a pandemia do Covid-19 com relativa facilidade, com direito a ficar e até trabalhar em casa.
Na outra ponta, porém, há um Brasil com mais de 40 milhões de pessoas em trabalhos informais, sem seguridade, sem receber nada em salário quando não podem trabalhar. “Temos milhares cuja casa é a rua, a praça, as beiras das rodovias. Temos mais ou menos 13 milhões de desempregados, uma multidão que sobrevive e partilha com filhos e netos a pobre e minguada aposentadoria”, indica o bispo.
Para se exercer a prática da esmola durante a Quaresma, e especialmente neste período de emergência sanitária, é necessário um esforço dos fiéis, já que nenhuma devoção agrada tanto a Deus como a dedicação para com os seus pobres. Por isso, Dom Guilherme sugere refletir sobre o que Papa São Leão Magno escreveu no seu pontificado sobre a prática da esmola durante a Quaresma, e em toda a vida cristã:
“Se encontrar na sua consciência algo que seja fruto da caridade, não duvide que Deus está com ele; mas se esforce por tornar-se cada vez mais digno de tão grande hóspede, perseverando com maior generosidade na prática das obras de misericórdia. […] Para praticar o bem da caridade, amados filhos, todo tempo é próprio. Contudo, estes dias da Quaresma, a isso nos exortam de modo especial.”