Entendo, mas não compreendo.
Vi Lindbergh na Globonews num programa de entrevista comandado por Míriam Leitão.
Eram ela, ele e um dos piores tipos que apareceram nas transmissões do golpe no Senado, Ricardo Ferraço.
Minha reação imediata foi ver se era mesmo Lindbergh. Era. Depois, me perguntei: mas o que ele está fazendo ali?
Não gostei.
Certo, ele estava aproveitando para passar suas visões a um público massacrado por entrevistadores e entrevistados brutalmente reacionários.
Era uma brecha, então.
Mas ainda assim. A que custo?
Lindbergh estava contribuindo, involuntariamente, para o esforço da Globo, pós-golpe, em simular “imparcialidade”.
“Quem disse que somos monolíticos? Olha só o Lindbergh na Globonews mesmo depois de acusar a Globo numa de suas últimas intervenções no julgamento.”
Isto é o que a Globo quer que a manada pense. Consumado o golpe Tabajara, a empresa afrouxa os controles rígidos de expurgo de vozes divergentes.
Faz parte do beabá do jornalismo de guerra que a Globo praticou para minar Dilma.
Com o objetivo alcançado, agora é a simulação da “neutralidade”.
E para que isso aconteça é preciso que a turma de esquerda aceite participar do jogo, como fez Lindbergh.
O suposto benefício vale o custo de ajudar a Globo a tentar refazer sua imagem?
Não acho.
Penso que se a Globo faz guerra ela deve receber guerra de volta. Isso significaria um boicote a qualquer dos múltiplos veículos da empresa.
Não falar com a Globonews. Não falar com a CBN. Não falar com o Jornal Nacional. Não falar com o Globo. Não falar com a Época.
Gelo. Gelo absoluto.
A mesma lógica se aplica, evidentemente, às outras empresas de jornalismo — Folha, Abril etc.
Mas a primeira da lista tem que ser a Globo. Que seja condenada a falar com os mesmos personagens de sempre. Que fique claro que ninguém se deixará usar pelos Marinhos para que eles posem de equidistantes.
Neste sentido, Lindbergh pecou.