Vera Magalhães comentou a entrevista que fez no Roda Viva com Martinho da Vila no Twitter.
Disse que o músico “desconversou” quando perguntado sobre a “infiltração mais recente das escolas de samba do Rio pelas milícias”.
Ela não explicou de onde tirou o “mais recente” — não tinha antes? Citou Adriano da Silva, que foi assassinado na Bahia.
A pergunta é covarde e preconceituosa porque Martinho é cantor, não o dono da boca. Para Vera, como ele é preto e sambista, certamente sabe como os milicianos mandam na coisa toda.
Tem gente graúda que Vera pode inquirir sobre isso. Sergio Moro, por exemplo, que trabalhou para um governo miliciano.
Ou os irmãos Marinho, que têm ligação comprovada — não especulativa — com o jogo do bicho. Em 2014, Boni foi tema da Beija-Flor, por exemplo (ficou em sétimo lugar).
Reproduzo aqui artigo que escrevi sobre o assunto:
O bicheiro Aniz (Anísio) Abraão David, patrono da Beija-Flor, comprou uma cobertura de 2 mil metros quadrados em Copacabana, na Avenida Atlântica, que era de Roberto Marinho. Em 2011, ela foi invadida por policiais civis na Operação Dedo de Deus.
O Estadão aproveitou a ocasião para contar como eram os réveillons mais chiques do Rio de Janeiro no tempo em que o doutor Roberto era dono do imóvel.
Uma equipe de cinqüenta seguranças cuidava da tranqüilidade dos convidados, em geral autoridades como ministros, embaixadores e governadores. Às mulheres, Lily distribuía um broche de pedras semipreciosas como lembrança.
Diz a matéria:
A cobertura do imponente Edifício Atlântica, no número 2.172 da Avenida Atlântica, de frente para o mar de Copacabana, já viveu dias muito mais gloriosos. Ali, onde ontem às 6h policiais desceram de rapel atrás do contraventor Aniz Abraão David, o Anísio, foi realizada durante 12 anos a festa mais chique do réveillon carioca.
Era um ritual sagrado. Todos os anos, Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo e proprietário da cobertura tríplex de 1.200 metros quadrados, recebia cerca de cem convidados para o jantar black-tie, ao lado da mulher, dona Lilly. Seguranças garantiam a tranquilidade dos ilustres convidados.
O cardápio era preparado com esmero pelo chef francês Laurent Suaudeau. Na varanda, uma orquestra com dez músicos tocava sucessos de Frank Sinatra. A pista de dança era geralmente montada em cima da piscina. A mesma piscina onde agora a pintura do beija-flor, marca da escola de samba da qual Anísio é patrono, domina o fundo.
A música só era interrompida à meia-noite, para que os convidados admirassem os fogos de Copacabana. Durante o restante do ano, os três andares da cobertura ficavam fechados. Em novembro, dona Lilly começava os preparativos para a festa: mandava pintar as paredes e chamava o decorador Helinho Fraga, o mais badalado do high society carioca, para arrumar os salões. Os móveis eram geralmente brancos.
Nas mesas, orquídeas brancas. Tão certo quanto as esmeraldas e os rubis das joias das convidadas era a distribuição de uvas pouco antes da meia-noite para que os convidados fizessem seus pedidos ao som de Está Chegando a Hora. Meia hora depois da queima de fogos, o casal Marinho ia embora para a mansão no Cosme Velho. Uma semana depois, a decoração era retirada e o apartamento, fechado.
Anísio comprou o apartamento em 2004, um ano depois da morte de Roberto Marinho. Pagou R$ 5 milhões. Ele já era proprietário do apartamento no primeiro andar, que agora o bicheiro usa como escritório. Também moram no prédio a autora de novelas Glória Perez e Eduardo Magalhães Pinto, da família proprietária do Banco Nacional, que em 1995 sofreu intervenção do Banco Central por gestão fraudulenta.
Rei. Embora tenha sido preso outras vezes, Anísio tem prestígio nos salões cariocas. Há menos de um mês, esteve na festa de lançamento do livro de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, no luxuoso hotel Copacabana Palace. Anísio recebeu abraço caloroso do Rei Roberto Carlos e circulou sem constrangimento ao lado do prefeito Eduardo Paes e de vários artistas.