Que tiro foi esse? A estranha sensação de ser um alvo na caravana de Lula. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 28 de março de 2018 às 9:25
O perito no ônibus da caravana de Lula que sofreu atentado. Foto: Joaquim de Carvalho/DCM

Esta reportagem faz parte da série sobre a Caravana de Lula no Sul, financiada pelos leitores através de crowdfunding. As demais estão aqui

O perito criminal de Laranjal do Sul confirmou que pelo menos três tiros foram disparados contra dois ônibus da caravana de Lula pelo sul do país.

Dois tiros acertaram o ônibus da imprensa é um, onde estavam os convidados. O laudo, no entanto, deve sair em dois dias. No ônibus da imprensa, um tiro atravessou a lataria e se alojou debaixo da poltrona onde estava sentado o jornalista Gianni Carta, filho de Mino Carta, dono da revista Carta Capital.

Gianni mora em Paris e está no Brasil para fazer um documentário para a TV Arte, da França. “Eu escutei um barulho muito forte quando o ônibus estava saindo de Quedas do Iguaçu, já na estrada. Como já estamos acostumados ao barulho de pedra, sabia que não era pedra, mas outra coisa, provavelmente tiro”, afirmou.

Outro disparo passou de raspão, na diagonal do ônibus, na janela da poltrona onde estava sentada a jornalista Clarice, da comunicação do PT. “Eu não sabia que era um tiro de revólver, pensei que talvez fosse de espingarda de chumbinho, mas eu fiquei com um zumbido na orelha e achei estrsnho”, contou.

Eu estava duas poltronas à frente da de Gianni e três atràs da de Clarice, notei que havia apreensão, mas ninguém parou para ver do que se tratava. Ninguém imaginava seriamente que a violência que tem marcado os protestos contra Lula chegasse a tanto.

É estranha a sensação de que fomos alvos e de que poderia estar aqui relatando uma tragédia. Ou que algum de nós já estivesse aqui para conter a história. Estranha sensação.

Já perto do campus da Universidade Federal da Fronteira Sul o ônibus parou, porque pelo menos um dos pneus estava batendo e se suspeitava que estivesse furado. Foi aí que se viu que havia grandes pregos atravessados em dois deles, os chamados miguelitos.

Os motoristas e os membros da coordenação aproveitarem para ver o que tinha provocado aqueles barulhos. A característica não era de buraco provocado por chumbinho, mas por revólver. Mais tarde o delegado confirmou a suspeita é a pericia não teve dúvida. Foi um atentado à bala.

No momento em que foi atingido, o ônibus da imprensa era o segundo dos três principais. É nessa posição que viaja, em 80% dos percursos, o ônibus que leva o nome ex-presidente Lula.

“O atentado foi contra o presidente Lula”, afirmou o deputado federal Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara. No ato no assentamento 8 de Julho, logo depois que saiu da universidade, Lula fez um discurso duro.

“Nenhum tiro vai acabar com minha disposição de brigar por vocês. Eles estão enganados. Quando eu não puder mais gritar, eu gritarei pela garganta de vocês. O dia que minha cabeça não pensar mais, eu pensarei pela cabeça de vocês. O dia em que minhas pernas não aguentarem mais andar, eu tenho certeza de que andarei pela perna de vocês. Eles querem me prender para me tirar da campanha, podem me trancar. As ideias já estão aí. Eles querem me matar? Eles mataram Tiradentes. Eles esquartejaram, salgaram a carne, e perduraram os pedaços nos postes, tanto em Vila Rica quanto no Rio de Janeiro. Podem ter certeza de que, até o último suspiro, eu lutarei pela dignidade do povo pobre do Brasil”, disse, sob intensos aplausos e gritos de aprovação.

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