Por Miguel Paiva, cartunista, escritor, roteirista e comentarista de televisão
Estamos vivendo uma espécie de ressaca, de rebordosa dos anos de barbárie política e comportamental que vivemos depois de Bolsonaro. E o pior que não havia nenhum projeto político mais sólido por detrás disso tudo. Era só a destruição e isso eles conseguiram. Conseguiram destruir os projetos sociais, o meio ambiente, a cultura, a saúde a e tentaram destruir a política.
Instituíram a violência como linguagem e os resultados estão aí. Crimes à solta, feminicídio, violência, incêndios, fuzilamentos, agressões, assédio sexual, enfim tudo aquilo que uma sociedade mais evoluída não permite e não convive. Sempre que penso nessas coisas me vêm a imagem dos filhos do homem, sem nenhuma preferência, mas como símbolo dessa pós- juventude deturpada e pervertida que estava tomando conta do país. Era fácil. Bastava estabelecer isso como linguagem comportamental que o resto viria.
Estamos quase assim. Ainda somos poucos os que nos revoltamos contra essas situações absurdas que ainda presenciamos. Para eles, as mulheres não valem nada, os gays têm que morrer, os pretos são escravos e quem se meter nessa ordem vai pro brejo também. A quem isso beneficia? Ao mercado sempre. O mercado se faz valer sempre de situações que não criam problemas ao enriquecimento ilícito. Quanto menos questões sociais tivermos, quanto mais negociações (?) salariais diretas entre patrões e empregados, quanto menos decisões coletivas existirem, melhor será para o mercado. E é esse mercado que continua arrogante querendo governar o país que elegeu o Lula. Era isso que essa gente queria.
É por aí que passam todas as notícias terríveis que estamos vendo. O garimpo ilegal com esse ouro que não tem dono, o desmatamento com a madeira sendo exportada do jeito que der, a exploração do trabalho escravo na produção de vinho num estado como o Rio Grande do Sul (não por nada, um dos mais bolsonaristas da União) as mortes, o uso indiscriminado de armas como se não houvesse nem lei nem amanhã.
Mas isso tem que parar. Isso aqui não é a casa da mãe Joana. Eu tenho certeza que lá as regras são mais respeitadas. Vamos colocar ordem nesse terreiro que aqui, agora, quem manda é o povo. A normatização da violência é um risco presente. Não podemos virar a página do jornal depois que lemos que um pai de um filho autista foi assassinado porque seu filho estava incomodando um cidadão de bem. Não podemos dormir tranquilos depois de ler sobre o massacre de Sinop onde pessoas foram mortas depois de um jogo de sinuca. Não podemos ficar tranquilos até que todos os envolvidos no terrorismo do dia 8 de janeiro sejam punidos.
Aquilo nada mais foi do que a tentativa de institucionalizar a violência, a baderna, a destruição como lema tipo deus, pátria e família para eles. Chega. O lema agora é democracia sempre.
Originalmente publicado em Jornalistas pela Democracia
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