Nos 100 primeiros dias do terceiro mandato de Lula, o principal índice de ações da B3 caiu 8,12% e teve o pior desempenho para um começo de mandato desde 1995, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito pela primeira vez.
No entanto, a situação mudou e o Ibovespa registrou uma alta de 14,5% entre 10 de abril e 28 de junho. No acumulado do semestre, o indicador apresenta uma valorização de 6,33%, aos 116.681,32 mil pontos.
O dólar caiu 6,93% frente ao real nos últimos seis meses, para os atuais R$ 4,85, sendo a maior queda frente à moeda nacional em um primeiro semestre de mandato presidencial desde a segunda eleição de Lula, em 2007.
Além disso, uma série de indicadores econômicos surpreenderam, como é o caso do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que vem mostrando uma desaceleração, reflexo da alta de juros iniciada pelo Banco Central (BC) em 2021. Em janeiro, o IPCA subia 0,53%, em 5,77% no acumulado de 12 meses. Em junho, a prévia da inflação (IPCA-15) ficou em 0,04%, o suficiente para puxar o acumulado de 12 meses para 3,40% – cada vez mais próximo da meta de inflação do BC para 2023, de 3,25% no ano.
No dia 1º de junho foi divulgado o Produto Interno Bruto (PIB) do 1º trimestre de 2023 e também surpreendeu. A atividade econômica do país cresceu 1,9% em relação ao trimestre anterior e 4% quando comparada ao mesmo período de 2022.
Com as boas posições, uma série de revisões nas projeções para o cenário macroeconômico foram feitas. O último Boletim Focus, publicado em 26 de junho, trouxe uma projeção de 5,06% para o IPCA; uma alta de 2,18% para o PIB; e um câmbio de R$ 5 até o fim do ano.
A rápida melhora no cenário macroeconômico fez muitos ligarem Lula a “sorte”. No entanto, economistas ouvidos pelo Estadão dizem que o salto do Ibovespa e a revisão das projeções tem mais a ver com o excesso de pessimismo na Bolsa, que levou a uma depreciação exagerada dos ativos no 1º tri do ano.
Segundo Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimentos, os agentes econômicos ainda não souberam como “jogar o jogo de Lula”. Por isso, quando o petista começou a fazer discursos inflamados contra o controle fiscal e a criticar a autonomia do Banco Central, o pânico se alastrou.
Para Erich Decat, head do time de análise política da corretora Warren Renascença e colunista do E-Investidor, “um dos principais destaques desses seis meses é o ministro Haddad. A atuação dele quebrou um pouco da desconfiança do mercado, porque ele entrou em campo trazendo uma agenda que não sinalizava para um descontrole dos gastos públicos, como havia um certo receio”.
O analista político da Medley Advisors, Mário Lima, vê os piores cenários sendo abandonados com a aprovação do arcabouço fiscal. “Haddad tem feito uma interlocução muito boa com o mercado, além de um trabalho muito correto na relação com o Banco Central. Ainda que haja críticas de parte a parte, pelo menos há um trabalho um pouco mais racional”.
os indicadores econômicos positivos somados à aprovação do arcabouço fiscal no Congresso criaram um ambiente favorável para que o mercado passasse a apreciar a ideia de cortes na taxa Selic, estacionada em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.
A expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central faça a primeira redução de juros em mais de dois anos no Brasil já na próxima reunião do grupo, marcada para a próxima semana. Com informações do Estadão.