Um estudo coordenado pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mapeou o impacto das queimadas para a saúde infantil na região amazônica.
Christovam Barcellos, pesquisador do instituto de Comunicação e Informação em Saúde, explica ao Repórter SUS, programa produzido em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fiocruz, que a instituição tem um observatório de crime e saúde, onde colaboram órgãos de dentro e de fora da instituição, como universidades, para realizar essa avaliação dos impactos das queimadas, qual a relação entre queimadas e desmatamento, queimadas e poluição.
“Nós produzimos uma quantidade enorme de dados sobre desmatamento, focos de calor, uso de hospitais por crianças em função de problemas respiratórios e sobre clima. Como está o clima na Amazônia e notamos que algumas áreas da Amazônia tiveram um ano realmente mais seco que o esperado”.
Outra observação que ele cita diz respeito ao período de abril até junho, quando as queimadas estavam acontecendo no sul da Amazônia. “Depois disso foi avançando para dentro da região”.
Por outro lado, os pesquisadores perceberam que nas áreas mais afetadas pelo fogo, o número de crianças internadas com problemas respiratórios dobrou. Calculou-se então a taxa de internação de crianças na faixa etária de zero a dez anos por problemas respiratórios.
“Existia uma coincidência enorme entre esses focos de calor e o excesso de internações. Calculamos que houve uma duplicação de internações de crianças por problemas respiratórios exatamente nessa faixa que se chama arco do desmatamento. Esse sul da Amazônia, passando pelo sudeste do Pará, norte de Mato Grosso, Rondônia quase toda e uma parte do Acre, são zonas de colonização muito recentes, desmatamento, bastante queimada, e provocando muitas doenças respiratórias em crianças”.
Eram esperadas 2.500 internações e houve 5 mil, segundo Barcellos. “Isso significa para o Sistema Único de Saúde (SUS) R$ 1,5 milhão, o que não é pouco, porque temos que considerar internação de adulto, outros problemas acontecendo além dos respiratórios. Problema ocular, irritação nos olhos, outros tipos de inflamação, problemas cardiovasculares podendo levar a infarto. Isso assustou muita gente e fizemos um alerta”.
Christovam Barcellos explica que os dados observados foram de maio e junho de 2019, e acredita num aumento posteriormente, principalmente entre julho e agosto, período de intensificação das queimadas.
A iniciativa da pesquisa, segundo ele, era prevenir a população e orientá-la sobre as providências a adotar, quem e onde estão os grupos mais vulneráveis.
“Exatamente para evitar internação. Muitas dessas internações de crianças são evitáveis, com uma boa Rede de Atenção Primária, diagnóstico rápido por médico, agente de saúde, porque muita gente pode não estar chegando ao hospital e isso é cruel na Amazônia. Muitas vezes as pessoas têm que pegar barco para ir a uma cidade que tenha hospital”.
Aldeias indígenas, acampamentos agrícolas, ribeirinhos da Amazônia, cidades pequenas que têm a estrada interrompida por algum acidente, são alguns dos casos que o pesquisador cita como público-alvo para o alerta.