Nesta terça-feira (8), o vice-governador da Pensilvânia, o democrata John Fetterman, derrotou o médico trumpista Mehmet Oz e foi eleito para o Senado dos Estados Unidos, em uma das disputas mais apertadas dessas Eleições de Meio de Mandatos (midterms), que redefinem o controle do Legislativo. Sua mulher, a carioca Gisele Barreto Fetterman, teve grande influência em sua jornada desde sua vitória nas eleições de 2018.
Nas eleições de 2018, Gisele tomou a decisão de não se mudar para a residência oficial. Se a família continuasse morando em sua própria casa, o estado poderia economizar uma grande parcela dos US$ 450 mil gastos anualmente na manutenção da residência oficial, que tem três andares e 2,4 mil m2.
Mesmo que tenha causado estranheza ao público, o vice-governador ouviu sua mulher e junto de seus três filhos, Grace, Karl e August, permaneceram em sua casa na cidade de Braddock, que fica a apenas vinte minutos da capital.
No verão de 2019, a vice-primeira-dama resolveu liberar a piscina de 110 m2 da residência oficial para que crianças e adolescentes carentes pudessem aprender a nadar. O Partido Republicano se irritou com a atitude, mas a iniciativa, com o apoio de creches e entidades assistenciais, aconteceu.
“Acesso à piscina nos Estados Unidos, sobretudo no verão, é um dos reflexos da diferença de classes. Os mais simples não têm esse prazer”, disse ela. Desde então, diversas crianças podem fazer uso da piscina sempre que chega o verão.
O papel de Gisele como vice-primeira-dama não é de se passar batido, porém, nem sempre é bem visto. Em 2018, Scott Wagner, o rival republicano de John Fetterman na corrida pelo governo do estado, disse que a mulher do seu concorrente era uma “ilegal”, isto é, uma pessoa que vive nos EUA sem ter autorização.
Todavia, a acusação do concorrente não era verdade. Gisele possui cidadania norte-americana desde 2009. Mas a fala de Wagner serviu para atrair os fanáticos do ex-presidente, que a perturbam até hoje, com cartas dizendo para que volte ao Brasil. Também a insultam, chamando-a de “macaca”. Por sua vez, quando recebe alguma ameaça, encaminha ao Departamento de Segurança Pública do estado.
Em outubro de 2021, a brasileira ganhou as manchetes dos EUA e do mundo, quando se tornou alvo de ataques racistas quando comprava frutas em um mercado. “Ali está aquela negra casada com Fetterman. Você não pertence a este país. Ninguém te quer aqui”, disse uma mulher que a chamou de “ladra”.
Alguns dos momentos da agressão foram filmados e divulgados nas redes sociais. “Eu tenho acesso à segurança, sei dos meus direitos e estou legalizada. Mas, na hora do ataque, todas as feridas se abrem. Eu me senti uma garota sem amparo e com medo”, lembrou Gisele.
Ao contrário do que a agressora esperava, ela apenas acabou ampliando ainda mais,a voz da vice-primeira-dama, que agora é convidada em diversas ocasiões para concorrer uma vaga de deputada pelo Partido Democrata. Mas, ainda assim, Gisele nega a ideia.
No entanto, continua se envolvendo com atividades políticas. Em média, visita ao menos três cidades para fazer reuniões em diretórios do partido em prol do marido.
“Conseguimos arrecadar 7,5 milhões de dólares nos últimos meses”, ela disse. Mesmo que as primeiras fases das eleições só aconteçam em maio do ano que vem, os trabalhos já seguem intensos. “João”, como a mulher chama o marido, tem grandes chances de ser o nome do partido para as eleições e se tornar Senador. “Mas as disputas na Pensilvânia são muito mais ferozes”, comentou.
Gisele fazia trabalho voluntário, levando alimentos às pessoas carentes. Em 2007, se interessou por uma reportagem sobre como John Fetterman, então prefeito de Braddock, havia reduzido o número de crimes na cidade.
A carioca resolveu fazer uma carta à prefeitura de Braddock, comentando sobre seu interesse em conhecer os programas sociais da cidade. “Daí, um dia recebi uma ligação do João.” Após se encontrarem, acabaram iniciando um romance e se casaram no ano seguinte.
Em 2012, Gisele abriu uma loja free store na cidade, onde as pessoas podem pegar o que quiser de graça. O estoque de sua loja é feito por vários itens e todos eles são doações de voluntários de todo o país. Ela também criou uma food rescue, para reaproveitar os alimentos que são jogados fora por mercados e restaurantes. Os projetos tiveram grande sucesso e levaram Gisele e o marido à TV.
A tentativa de brasileiros de entrarem clandestinamente nos EUA pela fronteira do México é uma das preocupações de Gisele: “Muitos entregam suas vidas aos coiotes, esses homens que fazem as travessias, e muita coisa perigosa pode acontecer. Mas penso ser um direito de todo mundo tentar um futuro melhor em outro lugar, como fez a minha mãe.”