TOUGH GUYS DON’T DANCE.
Durões não dançam. É o título de um dos livros de Norman Mailer.
Li há muito tempo e, se o título jamais saiu de minha mente, o roteiro já se diluiu. Há uma cena, num filme de Woody Allen, em que ele conta que leu Guerra e Paz em tempo recorde, com a leitura dinâmica. O interlocutor pergunta o que ele guardou. “Que tratava de guerra e paz”, ele reponde.
Bem, o que lembro, mesmo, do romance de Mailer é que durões não dançam. Mesmo assim recomendo porque todo Norman Mailer é Norman Mailer.
Concordo com a tese central. A dança foi feita para mulheres. Uma mulher que dance mal tem mais graça que um homem que dance bem.
Numa cena de Pulp Fiction isso fica demonstrado como uma equação matemática. Uma Thurman não dança nada. Me lembra minha prima Mariza, loura, bonita e desajeitada nos passos travados. Travolta é um mestre do bailado. Sumiu uma época, fez um estratégico implante de cabelo, e reapareceu em Pulp Fiction. Para quem gosta de curiosidade, Pulp Fiction era como se chamavam os romances policiais nos Estados Unidos muito tempo atrás. Pulp, polpa, era a base do papel barato dos livros.
No filme, os olhos do espectador acabam nela, mesmo com sua dança trôpega. Travolta dá seus saltos de sempre, mas é reduzido a coadjuvante nesta cena.
A dança, mesmo tosca como a de minha prima, eleva a graça da mulher. A feminilidade, o encanto. No homem tem o efeito oposto. Quanto mais bem executada, mais subtrai em virilidade. Quando é ruim, o efeito é simplesmente patético.
Mailer lutava box, casava e descasava, brigava, escrevia romances e tentava ser um novo Hemingway, o que não conseguiu embora tenha chegado perto.
Fazia muita coisa, como se vê.
Mas, como todo durão, não dançava.