O influenciador digital bolsonarista Kim Paim foi citado pela Polícia Federal (PF) nas investigações da estrutura paralela da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), criada durante o governo Bolsonaro, como um “vetor de propagação” da espionagem ilegal de investigados. Com informações do colunista Guilherme Amado, do Metrópoles.
De acordo com a PF, a Abin realizava espionagem sem autorização contra autoridades, servidores públicos e jornalistas vistos como opositores pelo governo Bolsonaro. A quarta fase da Operação Última Milha prendeu cinco pessoas na última quinta-feira (11).
Em uma das mensagens incluídas na investigação, o empresário Richard Pozzer, detido pela corporação, enviou a Paim um dossiê contra agências de checagem, frequentemente criticadas por bolsonaristas. O diálogo ocorreu em 2021.
“Caraio. Não sei nem como colocar isso em um vídeo. Trabalho profissional demais”, respondeu Paim. O contato com Paim foi comemorado por Pozzer junto a outro contato da Abin paralela: “Mais um canal aberto pra gente”. Quando questionado pelo colega se referia-se a Paim, ele confirmou: “Exatamente!!! Já temos por onde escoar o esgoto”.
Outros dois indivíduos detidos na operação da PF também mencionaram Paim em suas mensagens. O militar Giancarlo Rodrigues e o agente da PF Marcelo Bormevet, ambos ocupando cargos de confiança na agência, utilizaram uma postagem de Paim para atacar o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Estou assistindo o Kim Paim de hoje. Ele disse que o assessor do Barroso já é investigado. Temos que sentar o pau nesse assessor. Manda bala”, disse Bormevet.
Quem é Kim Paim?
Dono de um bigodinho ridículo de cafetão dos anos 40, Kim Paim é um delinquente espalhador de fake news. natural da Bahia e reside na Austrália desde 2015, sem retornar ao Brasil desde 2017. Se autointitula “engenheiro”. Com uma ampla audiência de mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais, Paim gera receita por meio do YouTube, em que publica vídeos diários com cerca de uma hora de duração, e através de seu site, onde oferece conteúdos exclusivos para assinantes que chegam a R$ 100 por mês.
Vestido sempre com um terno ridículo, Paim produz diariamente seu “dossiê” no YouTube há cinco anos, mantendo presença constante nas redes sociais da família Bolsonaro. Ele também é frequentemente elogiado por Carlos Bolsonaro.
Nos últimos 40 dias, Jair, Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro compartilharam os vídeos de Paim 17 vezes no X, antigo Twitter, com uma média de quase um endosso a cada dois dias. Carluxo lidera com dez menções, seguido pelo ex-capitão, que compartilhou três vezes, e Eduardo, que também compartilhou três vezes. Flávio compartilhou uma vez desde o início de junho.
Uma das estratégias de Carlos é marcar o perfil de Kim Paim e promover seus vídeos diários como um “telejornal”. “Fantástico telejornal do dia”, publicou o vereador em 25 de junho. “Recomendo aos amigos”, escreveu em 11 de junho.
Para a PF, o uso de influenciadores digitais como Paim para disseminar informações ilegais da “Abin paralela” foi uma tática para proteger os responsáveis do “núcleo político”, incluindo Carluxo, de possíveis repercussões legais.
Um ex-assessor de Bolsonaro, sob anonimato, mencionou que Paim foi escolhido para esse papel por sua abordagem mais “sofisticada” em comparação com outros apoiadores da direita.
Devido à sua audiência majoritariamente bolsonarista, Paim evita críticas diretas ao ex-chefe do Executivo em seu canal no YouTube. O ex-assessor descreveu o método de Paim como uma mistura habilidosa de fatos e falsidades para moldar uma narrativa convincente.
Outra fonte desse entorno destacou que Paim não apenas seguia orientações para atacar a oposição, mas também trabalhava para enfraquecer figuras da própria direita que pudessem rivalizar com Carlos Bolsonaro. Essa pessoa enfatizou que a ausência de Paim do Brasil desde o início do governo Bolsonaro o protegeu de ser alvo do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao contrário de outros militantes, como Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, que deixaram o país diante das investigações, Paim não enfrenta contas bloqueadas ou mandados de prisão. Nas eleições de 2022, ele foi mencionado em um processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) movido pela coligação de Lula, que acusou Bolsonaro de fomentar um “ecossistema de desinformação”.
O documento apontou Paim como um dos principais responsáveis pela difusão das pautas bolsonaristas e pela interação com os perfis comentados por Carlos Bolsonaro nas redes sociais.
Kim Paim, no entanto, negou qualquer irregularidade, afirmando nunca ter mantido contato com os Bolsonaro ou outros políticos, e que seus vídeos são baseados em notícias verificadas. “Meus vídeos são feitos apenas de notícias que vou completando. Sou cuidadoso. Não arrecado dinheiro no chat dos vídeos, nem tenho Pix no Brasil. Eu sou crítico da turma da direita ‘pé na porta”, afirmou.