O ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, anunciou o nome do economista Marcio Pochmann, de 61 anos, para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nessa quarta-feira (26).
Pochmann irá substituir Cimar Azeredo, funcionário de carreira do órgão, que ocupa o cargo de presidente interinamente.
“Marcio Pochmann que vai para o IBGE e não teve nenhum ruído sobre isso. Vai ser o presidente, vai assumir o IBGE”, anunciou Pimenta após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Antes mesmo do anúncio de que ele seria o novo presidente do órgão, jornalistas da Globo passaram a atacá-lo. A colunista Malu Gaspar disse que “há quem cite o temor de que, uma vez no IBGE, Pochmann possa querer seguir o exemplo do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) argentino, que maquiava dados durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner para manter a taxa de inflação anual em 10% ao ano”.
O comentarista da GloboNews Merval Pereira também fez críticas à indicação do economista. Segundo ele, Pochmann no IBGE “não é bom sinal” e “pode criar dificuldades”.
Apesar das críticas, o nome do economista segue firme no governo. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde 2011, ele já foi candidato a prefeito de Campinas (SP) duas vezes, mas não se elegeu.
Em junho de 2012, concorreu pela primeira vez ao cargo, mas foi derrotado em segundo turno por Jonas Donizette (PSB).
Porchmann concorreu novamente para prefeito em 2016, mas terminou a disputa em terceiro lugar. Dois anos mais tarde, também se candidatou a deputado federal por São Paulo, quando ficou na suplência.
Em nota, o PT de Campinas defendeu a decisão do governo de indicá-lo para presidência do IBGE. “A vida acadêmica e profissional de Márcio demonstra que será um grande acerto do Governo Lula”, diz o comunicado.
Antes das eleições, Pochmann foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade durante a gestão de Marta Suplicy (PT) na cidade de São Paulo. Ele também presidiu, entre 2012 e 2020, a Fundação Perseu Abramo, associação ligada ao PT para “desenvolvimento de atividades como as de reflexão política e ideológica, de promoção de debates, estudos”.
Entre 2007 e 2012, foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e participou da transição do governo após a eleição de Lula.
Pochmann é formado em ciências econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, em 1993, tornou-se doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2000, passou a dar aulas na Unicamp e se aposentou em 2020, mas seguiu como professor colaborador.
Ele também publicou mais de 60 livros ligados à economia e venceu o prêmio Jabuti, em 2002, na categoria Economia, Administração, Negócios e Direito, com o livro A Década dos Mitos.
Em 2015, em entrevista ao instituto Unisinos, ele falou sobre alguns temas que lhe são caros. Questionado sobre a desigualdade no país, citou assuntos que são discutidos hoje no governo. Leia:
“Estamos num país da diversidade, territorial, cultural, diversidade social, racial. E isso é um fato positivo do Brasil. O fato negativo é a desigualdade. E ela é um mal que sustenta o país há muito tempo. É uma sociedade construída em cima da desigualdade, um país com marcas escravistas ainda presentes. O que precisa ser enfrentado é a desigualdade e não a diversidade. Esse entendimento talvez não tenha sido muito bem construído e temos hoje uma imposição firme em relação ao enfrentamento dessa desigualdade.
A nossa dimensão é a necessidade de formar a maioria política para viabilizar um programa de mudanças no sistema tributário brasileiro. De um lado, a mudança pode ser analisada a partir de uma ação nas prefeituras, nos governos estaduais e também no governo federal. O sistema tributário brasileiro de um país republicano federalista tem uma ação a ser feita no plano local. A mudança no Imposto Predial Territorial Urbano – IPTU, por exemplo. É um campo necessário de tributação progressiva sobre a propriedade.
Nós já temos instrumentos, mas que talvez não sejam usados adequadamente. Acabam valorizando a desigualdade tributária. No plano dos governos estaduais há uma série de outras iniciativas. Em relação ao Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, por exemplo. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, que é um tributo extremamente regressivo. E, obviamente, a pauta federal extremamente mais complexa.