Há um certo alarido no twitter neste final de semana contra um artigo de Merval no Globo.
Li o texto, e o que mais me impressionou foi a cara de pau do autor. Merval quer mesmo que acreditemos no que ele escreve? A mesma pergunta se pode fazer a outros colunistas do gênero: eles desejam mesmo que o leitor acredite no que escrevem?
Vejamos.
No texto que li, Merval diz que o Supremo pode entrar num processo de “desmoralização” caso – evidentemente – os recursos infringentes sejam aprovados.
Que autoridade tem Merval para dizer isso? Ora, ele é um dos principais colunistas de uma corporação que lesa o país há décadas.
A Globo, recentemente, foi desmascarada numa sonegação de 1 bilhão de reais, em dinheiro de hoje. Num golpe que dá cadeia em países socialmente mais avançados, a Globo comprou os direitos da Copa de 2002 e, para fugir dos impostos, afirmou que estava investindo no exterior.
Não bastasse, o processo que prova o caso quase que desapareceu pelas mãos de uma funcionária da Receita – libertada pelo ínclito Gilmar Mendes. O sumiço beneficiaria apenas e apenas a Globo, e conta muito sobre o Brasil e sua mídia que jornal nenhum tenha corrido atrás do caso.
O próprio Merval, embora presente em virtualmente todas as mídias da Globo, é PJ na empresa. Com isso, ele e empregador pagam menos impostos do que deveriam.
E ele vem falar de “desmoralização”?
Merval poderia tentar fazer este ponto aos jovens que justificadamente esculacham a Globo, símbolo da iniquidade e das mamatas nacionais.
Que tal?
Pessoalmente, duvido que ele acredite no que escreve. Acho que, como um ator de novelas, ele faz um papel. Há sempre a hipótese de ignorância também: colunistas conservadores parecem desconhecer a pilhagem histórica do dinheiro público pelas empresas jornalísticas. O BNDES sempre foi generoso, os anúncios oficiais eram pagos com tabela cheia quando os demais anunciantes tinham descontos colossais, não era e não é cobrado imposto sobre o papel etc etc.
O Supremo não corre risco de desmoralização. Por uma razão: já está completamente desmoralizado. Ou merece respeito uma corte cujos integrantes mantêm uma relação promíscua com jornalistas e escritórios de advocacia? (A foto deste artigo, em que Merval confraterniza com Gilmar Mendes, é um horror ético.)
Fux estava recebendo uma festa de aniversário do dono de um grande escritório carioca. O presente absurdo só não se realizou porque a história vazou.
Joaquim Barbosa pagou uma viagem a uma jornalista do Globo – num avião da FAB – para que ela escrevesse matérias (pagas, usemos a palavra certa) sobre nem se sabe mais o que na Costa Rica.
O mesmo JB gastou 90 mil reais do dinheiro público para reformar banheiros do apartamento que lhe cedem em Brasília. E ainda conseguiu um emprego para seu filho na Globo.
Ora, com que isenção ele poderia julgar, por exemplo, o caso de sonegação da Globo?
Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes se entregaram nesta semana a uma indecente chicana para evitar o voto decisivo do decano sobre os recursos infringentes. Com isso, a pressão sobre Celso de Mello pôde ser redobrada. É só ver coisas como o próprio artigo de Merval e a capa da Veja desta semana com o decano.
Desmoralização? De quem?
Ficou claro, no Mensalão, que o método de escolha dos juízes não poderia ser pior. O critério é político e não técnico. Lula, como se sabe, escolheu Joaquim Barbosa por ser negro e não por ser brilhante – a que preço.
FHC é responsável por Gilmar. Dilma conseguiu escolher Fux porque ele, num lobby insano, prometeu “matar no peito” o caso do Mensalão. Outra vez, a que preço.
Tudo isso – tornado público – transformou o STF numa piada. Merval parece fingir que leva o STF a sério, mas acho que a fala de Wellington se aplica aqui: quem acredita nisso acredita em tudo.
A fala empolada e cínica dos magistrados – “os magníficos votos” de cada um são sempre sublinhados por quem vai contra tanta magnificência – torna, além do mais, o STF distante dos brasileiros médios.
Na Inglaterra, o juiz que cuidou dos debates sobre os limites da mídia – Brian Leveson – se expressava num inglês claro e compreensível a qualquer britânico alfabetizado.
Você não consegue desmoralizar o que já está desmoralizado, a despeito de perorações como a de Merval – ele mesmo sem muito crédito para falar em moral.