Quem é o Alckmin que emerge da vitória por WO nas prévias de São Paulo. Por José Cássio

Atualizado em 21 de março de 2016 às 9:43
Doria, seu padrinho Alckmin e correligionários
Doria, seu padrinho Alckmin e correligionários

O Geraldo Alckmin que emerge desta vitória por WO de João Doria nas prévias do PSDB terá um problema a resolver e um desafio a cumprir.

O problema é lidar com um partido dividido, desmotivado e em vias de perder seus melhores quadros.

Andrea Matarazzo, por exemplo, não só abandonou a disputa como saiu atirando. Alegou que o governo usou a máquina despudoradamente em favor de Doria e que seu concorrente “comprou” apoios para garantir votos na eleição.

O que se fala no partido é que o ato de desfiliação de Andrea não será isolado.

Com ele, devem deixar o PSDB diversas outras lideranças, além de quadros importantes como José Serra, que costura sua ida para o PMDB, Alberto Goldman, inimigo quase declarado de Alckmin, entre muitos outros.

No seu melhor estilo mineiro de Pindamonhangaba, Geraldo tenta fazer de conta que o problema não existe.

Ao votar no diretório zonal do Butantã neste domingo, relevou o problema, alegando que isso é normal em partido grande e que espera, agora que o processo de escolha se consolidou, a união do grupo pela vitória em outubro.

O desafio que terá pela frente é tão ou mais complexo que administrar a derrama de quadros que certamente virá.

Geraldo terá de provar, agora, a sua capacidade de liderar equipes e especialmente articular estratégias políticas eleitorais.

Nas vezes em que desempenhou esse papel, o resultado não foi lá um exemplo de competência e inventividade.

Vejamos o caso da eleição presidencial de 2006.

Logo que foi anunciada sua ida para o segundo turno com Lula, o Geraldo que assumiu o comando da campanha colocou de lado alguns coordenadores, especialmente aqueles ligados a José Serra – havia vencido no primeiro turno a disputa para o governo do Estado.

Sem consultar ninguém, antes inclusive de sinalizar qualquer posicionamento aos aliados no plano nacional, surpreendeu de novo ao receber o casal Rosinha e Antony Garotinho.

A iniciativa foi considerada esdrúxula, pois o que o casal Garotinho se tornou hoje, a fina flor do baixo clero, já estava mais do que sinalizado naquela época.

O resultado daquela eleição não surpreendeu os mais experientes: isolado, sem saber como lidar com temáticas como as privatizações promovidas por FHC, Geraldo teve uma votação menor do que havia conquistado no primeiro turno – um fato inédito em disputas nacionais.

Dois anos mais tarde, voltaria a errar feio, desta vez na eleição para prefeito de São Paulo.

O PSDB, sob o comando de José Serra, que ocupava o Palácio dos Bandeirantes, havia assumido um compromisso com Gilberto Kassab de apoiá-lo na sua reeleição – a ideia inclusive era o partido indicar o vice na chapa.

Mas Geraldo resolveu que ia desconsiderar o acordo. E, da mesma forma como agora, nas prévias, incendiou o PSDB.

Dividiu o partido e acabou saindo candidato mesmo sem o apoio das principais lideranças e de boa parte da militância. Sequer chegou ao segundo turno – ficou em terceiro lugar, atrás de Kassab e Marta Suplicy.

Ok, o lógico é você perguntar: “Mas ele venceria mais duas disputas para o governo de São Paulo nos anos seguintes, em 2010 e 2014. Como se explica isso?”

A melhor resposta para essa questão já foi dada. E por alguém que conhece profundamente o PSDB: o chefe da Casa Civil do Governo, Edson Aparecido.

Ao se posicionar contra o apoio de Alckmin a Doria, Aparecido alegou que “em todos os momentos em que o partido se dividiu nós perdemos as eleições”. Ou seja, coincidentemente nas vezes em que Geraldo teimou em dar as cartas.

Com a candidatura de João Doria, a estratégia do governador é pavimentar o caminho para a disputa da Presidência em 2018.

Para espanto geral, a tese foi reiterada diversas vezes por seus secretários em encontros com militantes nas previas.

Condicionar a disputa municipal ao sonho da Presidência é um erro duplo: ao mesmo tempo em que você despreza os problemas dos moradores, fazendo da cidade trampolim, corre o risco de ver a candidatura naufragar e não ter o que dizer aos eleitores mais à frente. “Se Pitta não for um bom prefeito você não precisa mais votar em mim”. Lembra do Maluf?

Mas essas não são questões que preocupam o homem que vai comandar o PSDB paulista daqui em diante. Em geral, Geraldo tem uma maneira própria e peculiar de analisar a conjuntura.

Atolado até a medula com as críticas dos paulistas ao escândalo da vez no seu governo, a quadrilha montada para “roubar” a merenda das crianças, não foi capaz de enxergar que isso podia ser nitroglicerina pura nas manifestações de 13 de marco na avenida Paulista.

Não só imaginou que nada ia acontecer como convidou outro enrolado em escândalos, Aecio Neves, pentacitado na Lava Jato e agora flagrado com conta secreta em paraíso fiscal, para ir com ele e subir no palanque para discursar pela moralidade.

Não chegaram a pisar no primeiro degrau da escada que leva ao topo do caminhão de som do Movimento Brasil Livre, do revoltado mirim Kin Kataguiri.

Bem antes disso foram enxotados pela massa enfurecida, que gritava “fora ladrão, fora oportunista. Sai daqui ladrão de merenda”.

O Geraldo que emerge das previas é este que terá um problema e resolver e um desafio a cumprir. Com a vantagem de que agora quem manda no partido é ele, não mais Serra, muito menos FHC.

Seu pupilo, João Doria, é uma incógnita. Saliente na conversa, nas críticas pesadas a Lula e ao esquerdismo do PT, desponta apostando que passou da hora da direita conservadora assumir o seu papel de protagonista na cena paulistana.

Tradição nesta área São Paulo tem. Não é sensato subestimar os conservadores na metrópole que legou ao Brasil nomes como Ademar de Barros, Jânio Quadros e Paulo Maluf.

A dúvida que fica é: Geraldo saberá lidar com tudo isso sozinho e conduzir o barco a bom termo, até o porto do Palácio do Alvorada?