As imagens são revoltantes e dignas dos piores momentos dos anos de chumbo. Uma pessoa é colocada à força dentro de uma van. Tudo acompanhado de perto pela polícia que não dá ouvidos aos populares indignados.
A van então sai em disparada. Ela está com as placas ocultadas por um plástico vermelho.
Um sequestro em plena luz do dia?
O episódio se deu na tarde de ontem na avenida Rio Branco, centro do Rio.
A pessoa levada pela van era um vendedor ambulante, tirando sustento durante o carnaval.
Pessoas que estavam no bloco naquele momento se revoltaram e tentaram impedir a ação. Muitos questionaram os agentes da Guarda Municipal pelo fato do veículo estar com as placas camufladas.
O vídeo viralizou.
Recebi a pouco esse vídeo mostrando a Guarda Municipal do Rio arrastando cidadão a força para carro com placas encobertas. Não sei mais detalhes, mas claramente é ilegal, carro sem placa circulando é muito menos sendo usado para deter pessoas.@MCrivella https://t.co/3IcDIvIz5V
— Regina (@ReginaMarisa13) February 23, 2020
Mas quem é o dono do carro?
J e F são as iniciais de Jefferson Alves dos Santos e Fernanda do Nascimento. Eles são os sócios da JF Transportes e Turismo, empresa localizada no bairro Vila Elmira, em Barra Mansa (RJ).
Além da van utilizada na sinistra operação (cujas placas encobertas são LLZ-5369), a empresa possui também pelo menos mais um ônibus.
Aberta em junho de 2015, com capital social de R$ 120.000,00, a JF tem como atividades principais, segundo registro na junta comercial, “venda de pacotes de viagem, venda de programas e pacotes turísticos, venda de viagem de turismo, serviços de fornecimento de informações e assessoramento e planejamento de viagens”.
A atividade secundária (código 4929-9-01) é o “transporte rodoviário coletivo de passageiros”.
Ou seja, sequestro não faz parte do portfolio de serviços.
A Secretaria Municipal de Ordem Pública confirmou que a Prefeitura do Rio contratou a van para “dar apoio a Guarda Municipal durante o Carnaval” e “principalmente para o transporte dos agentes que fazem operações nas ruas”.
Informou ainda que “o ambulante foi detido após desacatar e agredir guardas” e que a responsabilidade por irregularidades é do dono do veículo (procurada pelo UOL, a Polícia Civil não informou o paradeiro do ambulante).
O DCM buscou contato com Jefferson Alves dos Santos, dono da JF, pelo número do celular estampado na lateral do veículo.
Sem ser atendida, a reportagem deixou pelo whatsapp as perguntas básicas desse caso:
Foi iniciativa própria ou a mando de alguém? O que fez com a pessoa que sequestrou? Onde ela está? Quanto cobrou pelo serviço?
Até o fechamento deste texto, nenhum contato foi feito por parte da JF Transportes.
Sequestro. Não há outro termo a ser usado nesse caso. Uma pessoa detida, se fruto de alguma atitude ilícita, deveria ser conduzida para a delegacia em uma viatura oficial, numerada, jamais num carro particular com placas escondidas.
Onde está o homem detido? Por que a Secretaria diz “estar investigando” se havia tantos agentes e carros da Guarda Civil ali mesmo, acompanhando e, numa total inversão de atitudes, pareciam estar dando cobertura ao veículo particular que fez as vezes de caveirão?
Se a moda pega….