Quem é Sandro Fantinel, o vereador bolsonarista de Caxias do Sul, e suas falas criminosas. Por Vicente Vilardaga

Atualizado em 1 de março de 2023 às 17:09
Sandro Fantinel e seu ídolo Jair Bolsonaro

POR VICENTE VILARDAGA

Apesar da curta carreira legislativa, o vereador de Caxias do Sul Sandro Fantinel, de 54 anos, que ofendeu nordestinos e fez ironia com a escravização de colheiteiros de uva num discurso na Câmara ontem, tem um longo histórico de declarações preconceituosas e criminosas.

Empresário do agronegócio e apoiador de Jair Bolsonaro, Fantinel, que hoje foi expulso do partido Patriota, exerce seu primeiro mandato parlamentar e marca presença com falas racistas e homofóbicas. Mostra-se armamentista e agressivo contra opositores e programas sociais.

Seus discursos com orientação de extrema-direita mobilizam com frequência a Comissão de Ética da Casa. Ao atacar os baianos especificamente – a maioria das vítimas de trabalho forçado resgatadas em plantações em Bento Gonçalves na semana passada – ele manteve seu padrão de conduta. A Polícia Civil instaurou inquérito e pediu as imagens com o pronunciamento do vereador para investigar o crime de racismo.

A Procuradoria Geral da Bahia também acionou os ministérios públicos federal e estadual do Rio Grande do Sul com o mesmo objetivo.

No seu discurso público, inclusive com transmissão no YouTube, Fantinel disse que a operação da Policia Rodoviária Federal e do Ministério do Trabalho que resgatou 207 trabalhadore explorados pelas vinícolas da região, foi excessiva e favoreceu os trabalhadores baianos.

Também ridicularizou as precárias condições de alojamento que eram oferecidas ao colheiteiros. “Agora o patrão vai ter que pagar empregada para fazer a limpeza todo dia para os bonitos também? É isso que tem que acontecer? Temos que botar eles num hotel cinco estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho?”, questionou.

“Agricultores, produtores, empresas agrícolas que estão nesse momento me acompanhando, vou dar um conselho para vocês: não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e contratar os argentinos.” A “gente lá de cima” é o nordestino e, especificamente, o baiano, que, segundo ele, “tem a única cultura de viver na praia tocando tambor”.

Sandro Fantinel e seu fuzil de estimação

“Infelizmente essa não foi a primeira fala preconceituosa do vereador. Ele tem essa prática de se exaltar no momento de se posicionar na tribuna”, diz a vereadora Estela Balardin (PT). “Ele discursa contra os povos indígenas e os nordestinos. Com tudo que é diferente ele é combativo de forma desrespeitosa e não aceitável.”

A vereadora considera que Fantinel, na medida em que duvida da situação análoga à escravidão denunciada na Serra Gaúcha, demonstra sua aceitação da prática e sugere que existe alguma tolerância na cultura local com o trabalho em condições aviltantes, o que e acaba colocando sob suspeita e sujando o nome de todas as empresas do setor e não apenas daquelas que utilizaram a mão-de-obra irregular.

Fantinel, que nasceu no distrito de Fazenda Souza, se define como o único “bolsonarista raiz” da Câmara de Caxias. Em 2018, ele renunciou à candidatura de deputado federal para se dedicar totalmente à campanha de Bolsonaro. No ano passado, ele concorreu ao cargo de deputado estadual, mas não foi eleito. Nos últimos dois anos, o patrimônio do vereador cresceu 25 vezes, segundo suas declarações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 2020, seu patrimônio declarado era de R$ 13 mil e contava apenas com um carro Ford Courier. E em 2021 saltou para R$ 311 mil e passou a incluir terrenos, participações societárias e um depósito bancário.

O vereador Lucas Caregnato (PT), que preside a Frente Parlamentar de Combate às Intolerâncias, estava no plenário quando Fantinel fez seu discurso criminoso. “Nós solicitamos uma questão de ordem e pedi que fosse feita uma nota repudiando a fala, mas ontem a mesa não acatou”, conta. “Só hoje, diante de toda a repercussão a nível nacional, com nossas redes inundadas de pessoas justificadamente indignadas, a Câmara aceitou fazer uma nota pública de repúdio e todos os vereadores assinaram.”

Foi também enviada à Comissão de Ética um pedido de cassação de Fantinel, que hoje não participou da sessão legislativa. “Ele escorregou em alguns casos, se manifestando de maneira indevida sobre várias pessoas, inclusive sobre o governador Eduardo Leite”, diz. Caregnato já foi relator de outras duas comissões de ética que envolviam o vereador agora sem partido – em uma delas ele ofendeu um eleitor, chamando-o de burro.

Fantinel em ato golpista em Caxias do Sul

Fantinel é um bolsonarista de carteirinha e foi ele quem trouxe o ex-presidente para a visita à Serra Gaúcha em 2021. “Ele pratica criminosamente a xenofobia e o racismo. O que ele faz é naturalizar o trabalho análogo à escravidão e o preconceito contra o povo do Nordeste, especificamente o da Bahia”, diz Caregnato.

Pelo menos duas vezes, em 2021, ele usou suas falas em plenário para depreciar a sexualidade do governador gaúcho, Eduardo Leite. Na primeira vez ele ironizou o fato de Leite não ter sido convidado para qualquer evento da agenda de Bolsonaro em sua visita à Serra Gaúcha naquele ano. “Só falta convidar o gay”, disse. Pouco tempo depois, atacou o governador novamente ao contestar a falta de resposta do governo sobre uma reivindicação de manutenção de rodovias na região.

“Com todo o respeito, nobre governador, o senhor disse que tinha que tirar a bunda da cadeira que as coisas se resolviam. O senhor tirou a bunda da cadeira. Deve ter botado em outro lugar, mas não em função de serviço”, afirmou. O que está claro é que Fantinel não tem a mínima condição de atuar como vereador. É um sujeito preconceituoso e mal-educado. O clima na Câmara está bastante propício à sua cassação, que servirá para fazer Justiça e interromper uma carreira política pífia.

https://www.youtube.com/watch?v=xfa6zykORYU