O diretor da CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), William Burns, nomeado em janeiro pelo presidente dos EUA, Joe Biden, se tornou o primeiro diplomata de carreira a assumir o cargo. Foi ele quem disse, em julho do ano passado, em conversa com integrantes do governo brasileiro, que o presidente Jair Bolsonaro (PL) deveria parar de levantar dúvidas sobre o sistema de votação do país antes das eleições de outubro.
Burns foi, e continua sendo, o mais importante funcionário do governo dos EUA a se reunir em Brasília com o governo Bolsonaro desde a eleição do presidente dos EUA, Joe Biden. A reunião aconteceu seis meses após a invasão do Capitólio por apoiadores do ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Ele se encontrou no Palácio do Planalto com o chefe do Executivo brasileiro e dois assessores de inteligência – o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e Alexandre Ramagem, então chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Quem é William Burns?
William Burns, que já atuou como vice-secretário de Estado dos EUA, é presidente do Carnegie Endowment for International Peace, um think tank de assuntos internacionais. Ele serviu cinco presidentes dos EUA (democratas e republicanos) em sua carreira diplomática de mais de 30 anos.
O diplomata liderou a delegação que manteve conversas secretas com o Irã sobre o acordo nuclear concretizado em 2015 e conhecido oficialmente como Plano de Ação Conjunto e Abrangente (JCPOA). Sob o JCPOA, o Irã concordou em limitar seu programa nuclear em troca do alívio das sanções econômicas impostas por EUA, ONU e UE.
Em uma entrevista ao Foreign Service Journal em 2019, um ano depois do então presidente Donald Trump retirar os EUA do acordo por considerá-lo muito brando, Burns disse que a decisão foi um “erro histórico”.
Crítico a políticas do governo Trump, o atual diretor da CIA condenou o assassinato do major-general Qassem Soleimani, comandante da Guarda Revolucionária iraniana. Visto como um adversário mortal pelos Estados Unidos, o militar foi morto em um ataque dos norte-americanos ao aeroporto internacional de Bagdá em janeiro de 2020. Burns se referiu ao assassinato de Soleimani como um “retrocesso estratégico significativo”, em entrevista ao Irish Times.
Ele também detonou o governo Trump, durante seu mandato no Serviço de Relações Exteriores dos EUA, ao falar sobre o afastamento de Marie Yovanovitch, uma diplomata de carreira que foi abruptamente removida de seu cargo como embaixadora na Ucrânia em 2019. “Nunca vi um ataque à diplomacia tão prejudicial, tanto para o Departamento de Estado como instituição quanto para nossa influência internacional”, disse Burns.
Na época, os democratas alegaram que Yovanovitch foi removida do cargo para que a Ucrânia pudesse iniciar investigações sobre Biden e seu filho Hunter, que fazia parte do conselho de uma empresa de energia ucraniana.
Corajoso, Burns desafiou o governo de George W. Bush no contexto da invasão do Iraque pelos EUA em 2003. Em um memorando chamado “Tempestade Perfeita”, entregue ao então secretário de Estado Colin Powell, ele mencionou seus pensamentos sobre como os esforços “para derrubar o regime em Bagdá poderiam desmoronar se não formos cuidadosos, criando uma ‘tempestade perfeita’ para os interesses americanos”.
Esse é o homem que tentou impedir Jair Bolsonaro de interferir e levantar dúvidas sobre o processo eleitoral brasileiro. Conforme sua campanha para reeleição se aproxima, a tendência é que o brasileiro intensifique seus ataques ao sistema de votos. William Burns bem que poderia chamar o presidente para mais uma conversa sincera.