Por Moisés Mendes
Chegou à ONU a preocupação com a expansão de células nazistas em Santa Catarina. O argumento de que esse é o Estado mais branco do Brasil não serve como explicação para um fenômeno que se intensifica há mais de uma década.
Agora, quem se preocupa é a relatora especial da ONU sobre racismo, a indiana Ashwini K.P., que pesquisa sobre o assunto. Ela esteve este mês em Florianópolis, Brasília, Salvador, São Luís, São Paulo e Rio de Janeiro.
Santa Catarina foi o Estado que mais a impressionou. Ashwini K.P. fará um relatório ao Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre o que ouviu e que aciona sempre a mesma pergunta.
É possível que jovens se articulem em grupos nazistas no Estado, sem o apoio financeiro de gente disposta a dar sustentação a esse ativismo?
A indiana disse, depois da visita a Florianópolis: “Estou chocada por saber da presença de grupos neonazistas disseminando discurso de ódio e crimes de ódio e também preocupada com relatos de islamofobia direcionados a migrantes, incluindo pessoas refugiadas e solicitantes de asilo, particularmente em Santa Catarina”.
Segundo ela, em Santa Catarina “o discurso de ódio e o racismo não são abordados da mesma forma” que nos outros Estados. “É um lugar onde há falta de política de cotas, falta de ação afirmativa. Há uma certa negação neste estado em relação a política antirracista e antinazista”.
O que não cabe a ONU investigar, mas à polícia e ao Ministério Público, que já fazem um trabalho elogiável nessa área no Estado, é se grupos nazistas não são financiados pelos memos patrocinadores de ações fascistas e golpistas e até hoje impunes.
Não seriam os protetores e estimuladores de jovens nazistas, com apoio financeiro, afinados com os empresários que patrocinaram ações golpistas, entre as quais os bloqueios de estradas, em Santa Catarina, depois da eleição?
Não estariam eles conectados com os mesmos que financiaram a formação, em Itajaí, do maior acampamento do país de manés e patriotas pelo golpe, no entorno da Delegacia da Capitania dos Portos, que chegou a ter mais de 5 mil pessoas? Vindas de onde? Com que dinheiro?
Santa Catarina está sendo estigmatizada como terra do bolsonarismo e da violência extremista porque os próprios bolsonaristas, identificados com grupos supremacistas, ajudam a propagar essa imagem.
O estigma não é criado pelos que denunciam a expansão do nazismo, mas por um ambiente de tolerância e conivência das comunidades com a ação dos extremistas. O nazismo é uma mancha na história de Santa Catariana porque é real e cada vez mais ameaçador.