Quem são os militares que discutiram golpe em grupo de WhatsApp

Atualizado em 19 de junho de 2023 às 17:18
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Parte das conversas encontradas pela Polícia Federal no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), estão em um grupo de WhatsApp que reúne até mesmo oficiais do Exército, incluindo comandantes de unidades e até instrutores de escolas militares. As informações são do jornal O Globo.

A perícia realizada pela PF em arquivos do celular de Cid revelou que um grupo de militares da reserva e da ativa defendeu um golpe de Estado após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição do ano passado.

“Durante análise do telefone de Mauro Cid, foi identificado um grupo denominado ‘…Dosssss!!!’. Alguns integrantes foram identificados como militares da ativa. Evidenciou-se que em diversos momentos dos diálogos foram tratados assuntos relacionados ao cenário político-eleitoral que sucedeu o segundo turno das eleições presidenciais”, diz o relatório da PF.

No trecho analisado pela PF entre 27 de novembro de 2022 e 4 de janeiro de 2023, 11 militares escreveram mensagens. Apesar de fazer parte do grupo, Mauro Cid não aparece interagindo nesse intervalo de tempo.

A primeira conversa interceptada nesse período foi iniciada pelo tenente-coronel Jorge Alexandre Oliveira de Medeiros de Souza, que trabalhou na 12ª Região Militar, em Manaus, Amazonas. Ele mandou um arquivo no grupo intitulado “Generais de Lula tomarão posse em dezembro”, às 7h26min de 27 de novembro.

Logo em seguida, o coronel Gian Dermário da Silva, comandante do Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói, diz: “Tentativa de aproximações sucessivas e de aumentar a divisão da Força.”

Questionado sobre o que poderia resolver a situação, Gian respondeu: “Uma ação por parte do PR e FA, que espero que ocorra nos próximos dias”, em referência ao então presidente Bolsonaro e às Forças Armadas.

Durante à tarde, o coronel Anderson Corrêa dos Santos afirmou: “Olha eu posso estar errado, mas acho que estamos caminhando para uma crise interna muito forte. A ruptura institucional já ocorreu há muito tempo. Tudo que for feito agora, da parte do PR, FA e tudo mais, não vai parar a revolução do povo que cansou de tudo isso”.

Atualmente lotado na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, o coronel de cavalaria Rodrigo Lopes Bragança Silva usou o “…Dosssss!!!” para avisar sobre a circulação de um documento em que oficiais contestariam o resultado das eleições: “E aí, agora todos colocaremos o nome nessa rela aí, né?”

O Major da ativa do Exército, Albemar Rodrigues de Lima fez provocações sobre uma eventual “tomada de poder” e citou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. “Vai ter careca arrastado por blindado em Brasília?”, escreveu.

O coronel Márcio Nunes de Resende Junior, que integra a Comissão Permanente de Avaliação de Documentos Classificados (CPADC), escreveu, às 15h13 do dia 21 de dezembro do ano passado: “Se o Bolsonaro acionar o artigo 142, não haverá general que segure as tropas. Ou participa ou pede para sair!!!”. A mensagem faz referência ao artigo 142 da Constituição Federal, que é usado por bolsonaristas para defender que as Forças Armadas seriam um poder moderador.

No período analisado pela PF, também fazia parte do grupo o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, que atuou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro e depois foi nomeado comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus.

Em 29 de dezembro, o oficial falou sobre uma carta assinada por militares. “Ainda nem é possível avaliar o efeito de tudo isso na Força”, disse. “O foda é que ficou gostosinho demais sermos só isso. Salário garantido, guerreiro com absoluta certeza de não guerrear, uma escapada ou outra ganhando bem por aí… ficou bom demais para querermos sair desse conforto. Não vai rolar mesmo”.

O coronel Felipe Guimarães Rodrigues, que atualmente atua como assessor parlamentar do Exército no Senado,  afirmou que “Outros bravateiros…não conseguiram deter uma fraude eleitoral clara dentro do território deles !!!”.

André Luiz Pereira da Silva, major da reserva do Exército, enviou somente duas mensagens com informações sobre um antivírus.

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