Publicado originalmente no blog do autor
Bolsonaro é um sujeito acuado, cercado de desconfianças por todos os lados. Esse medo é o que aparece como eixo do livro “Tormenta” (Companhia das Letras), da jornalista Thaís Oyama, sobre o primeiro ano de governo.
Se me pedissem uma síntese do que li até agora sobre o livro, incluindo uma reportagem de Naief Haddad, na Folha, e outra de Marco Britto, no UOL, eu diria que Bolsonaro não conta nem mesmo com a fidelidade dos filhos. Mas o problema maior parece que são os generais.
Muitos dos que cercam Bolsonaro se aproximam mais para atormentá-lo, transmitir desconfiança sobre a sua capacidade de governar e insinuar que ele talvez não termine o mandato.
É o que está em tudo que já foi publicado. Até o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo, contribuiu para a insegurança de Bolsonaro. Toffoli aproximou-se do sujeito para dizer que Mourão queria derrubá-lo.
Um trecho da reportagem da Folha:
“Num fim de semana de outubro, enquanto tomava água de coco na beira da piscina do Alvorada com um amigo, o presidente disse que, apesar do receio que tinha de ser alvo de drones, gostava de conversar ao ar livre porque dificilmente seria grampeado. Seu temor, confidenciou, era ser espionado por Mourão”.
A reportagem da Folha segue em frente:
“Durante encontros reservados ocorridos em setembro de 2019, o ministro do STF disse que um movimento golpista havia sido articulado por Mourão e outros generais meses antes. Nessas ocasiões, Toffoli também falou que agiu para abortar a quartelada e avisou Bolsonaro, que tomou suas medidas”.
E agora, a pergunta inevitável: quem eram, além de Mourão, os generais que conspiravam contra Bolsonaro? Augusto Heleno, que aparece no livro definindo Bolsonaro como “um despreparado”, teria feito parte da turma?
Vale lembrar que, depois de uma atuação quase exibicionista, até a metade do ano, Mourão se retirou de cena e agora e aparece em público raramente. Bolsonaro determinou que Olavo de Carvalho mandasse recados pelas redes sociais e pelo Youtube, para que Mourão calasse a boca. E Mourão ficou quieto.
Quando ficaremos sabendo o que levou a tentativa de golpe ao fracasso? Os generais brasileiros já não conseguem derrubar nem um tenente? Aguardemos o próximo livro, porque outros estão prometidos.