- O mais importante: leve a mão à testa. Não só para demonstrar que se deu conta das bobagens que anda fazendo. É mais para tirar essa franja da frente dos olhos. A única franja a que um homem de 72 anos tem direito é aquela de renda que fica para fora do caixão e os parentes colocam para dentro na hora de fechar a tampa.
- A carne é fraca, meu rei, e você cantou isso tão bem… E o dinheiro do frigorífico é forte. Mas estava melhor quando você apenas cavalgava na carne.
- “Com certeza”, você diz contorcendo a boca e deixando todos na mesa com a impressão de presenciar o início de um AVC. O sorriso para no meio porque a toxina botulínica não deixa. “Friboi”, você completa. E ri cerrando os dentes. Nunca. Está escutando? Nunca mais. Nunca mais pense em atuar na sua vida.
- A propósito, agora que virou garoto propaganda de empresa que vende boi a vácuo, vai ser difícil ouvir você cantar “galope” e “cavalgar” novamente. Vou imaginar você não cobrindo a amada de virilidade mas num cavalo qualquer tocando boi em Goiás. Dá um jeito de consertar isso!
- O Lamborghini. Roberto… Lembra como era lindo você de Carlitos no especial de fim de ano? O mendigo, o palhaço trágico. Agora você parece um sertanejo universitário que fala mais de carro importado do que de mulher.
- Bicho, vem cá: que papo é esse de que você é a favor de biografia não autorizada? Então libera o livro do rapaz lá que te adora, caramba!
- Em vez de procurar DJs notoriamente anônimos para estragar suas canções como naquela delinquência chamada “Roberto Carlos Remixed“, por favor, dê um tempo no maestro Eduardo “Teclado Casio” Lages e volte aos Estados Unidos. Lembra dos anos 1970? CBS, você bacanão lá em Nova York, Miami? Volta lá para gravar com arranjadores que sintam amor pelo som original dos instrumentos. Pega um cara de big band e arrebenta, bicho.
- Use, meu querido, meu velho, meu amigo, o chamado “dom da fala”. Deus, que você cantou tão bonito, se você acredita nEle você sabe que Ele nos deu o dom da comunicação. Veja bem: é “dom da fala“. E não o “dom de dizer a mesma besteira sempre. Chega de agredir os microfones com a cantilena “é sempre muito amor, é muita emoção, eu sinto essa energia maravilhosa e etc”.
- Mexe nesse show. Você tem centenas e centenas de canções que talvez nem você se lembre que gravou – mas que os jovens amam. E para que jogar os rocks fora naquele pot-pourri mandrião. Faz o show para as coroas e os patrocinadores mas usa o fato de que você é milionário a seu favor: junta 20 faixas de soul e rock ‘n’ roll e lota uma casa menor, cheia de garotaada, e sente a vibração de gente que realmente ama a música que você fez pela música e não porque ela dá na cinquentona uma viagem erótico-nostálgica dos namoricos deixados nos anos 1960.
- Preto. Mete um terno preto. Músico do seu tamanho usa preto.
- Negro. Está faltando negro na sua banda. Antigamente tinha muito mais. Depois que você entrou no motel para nunca mais sair, sua banda ficou branca e emaciada. Black power, man!
- A essa altura, você, leitor amigo, pode estar se perguntando: por que diabos escrevi 13 conselhos? No pacote de manias, ou de TOCs (se esse diagnóstico existe de verdade) RC inclui o número 13 no index prohibitorum em que estão a cor marrom, o gato preto, sair de um prédio por porta diferente da que entrou, etc. Ele parece vir ordenhando a vaca da cura TOC bem devagar. Primeiro volta a cantar “Negro Gato”. Anos depois diz que conseguiu abraçar o amigo Erasmo apesar dele estar de marrom. Mais recentemente, disse que pode voltar a entoar “Quero Que Tudo Vá Para o Inferno”. Roberto, chega de ordenhar a vaca do TOC. Manda a coitada logo para o abate. Porque esta, com certeza, não é Friboi.
- Por fim: vai dar um passeio, cara. Vai gastar essa grana. Pega essa namorada aí e vai tomar um banho de mar do outro lado do mundo. Larga essa coisa de propaganda de boi e leite ninho, especial de fim de ano com funkeiro e vai ver uns shows de rock por aí. Você costumava gostar.