Na “Operação Hefesto” realizada no Estado de Alagoas em 1º de junho de 2023, a Polícia Federal apreendeu R$ 4,4 milhões em dinheiro vivo.
A dinheirama estava escondida no cofre da empresa do policial civil e empresário Murilo Sérgio Jucá, aliado do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira.
A verba foi desviada pelo esquema de corrupção em licitações do FNDE/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para a aquisição de “kits de robótica” por valores superfaturados.
Na investigação, a PF descobriu que o mesmo veículo Toyota Hilux de propriedade de Murilo Jucá, usado para transportar o dinheiro em espécie desviado pela organização criminosa, também foi utilizado na campanha eleitoral de Arthur Lira em 2022. A cedência do carro por Murilo aparece como doação eleitoral na prestação de contas no TSE.
Luciano Cavalcante, secretário particular no gabinete da liderança do PP na Câmara dos Deputados indicado por Lira, também foi alvo da operação da PF.
Cavalcante tem vínculos precedentes com a família Lira. Ocupou cargo de confiança no escritório do então senador Benedito de Lira, pai do atual presidente da Câmara dos Deputados.
No cumprimento do mandato de busca e apreensão nos endereços de Luciano Cavalcante, a PF encontrou um livro-caixa com a contabilidade da distribuição de recursos, no qual Arthur Lira aparece como beneficiário de milhares de reais para o pagamento de despesas diversas, como “SP”, “hotel”, “carro” e outras retiradas.
Cavalcante acabou exonerado do cargo dias depois da Operação, em 5 de junho de 2023, o que somente aconteceu em decorrência do óbvio envolvimento dele no escândalo.
Pouco mais de um mês depois, em 6 de julho de 2023, Arthur Lira foi beneficiado pela decisão do ministro do STF Gilmar Mendes, que suspendeu a investigação, atendendo pedido de advogados do presidente da Câmara.
Mesmo alegando não ter nenhuma vinculação com o esquema corrupto investigado pela PF, Lira curiosamente pediu que a investigação fosse conduzida pelo STF, foro onde poderia mover os pauzinhos.
Um mês depois de trancar a investigação, no dia 10 de agosto Gilmar Mendes fez mais um favorzinho ao bando e decidiu anular a Operação Hefesto; e, pasme, mandou destruir todas as provas recolhidas pela PF que incriminavam aliados de Arthur Lira. Sim, Gilmar Mendes mandou destruir todas as provas coletadas!
Em setembro de 2023, o ministro do STF ordenou a devolução de todos os bens apreendidos na Operação – computadores, celulares, documentos e, também, os R$ 4,4 milhões roubados. É como se nada tivesse acontecido.
Malu Gaspar, no jornal O Globo, informa, porém, que a dinheirama continua depositada numa conta judicial desde setembro do ano passado, e ninguém se habilitou para retirá-lo. “Para policiais federais ouvidos pela equipe do blog, isso acontece porque os envolvidos no caso não têm como comprovar a origem dos valores”, ela escreveu. Claro, a origem de obtenção do dinheiro é ilícita, produto da corrupção com verbas do orçamento secreto.
Agora, a Polícia Federal está diante de uma situação absolutamente esdrúxula: sabe quem entesourava no cofre os R$ 4,4 milhões roubados do erário, mas depois das decisões do Gilmar Mendes, tem de fazer de conta que desconhece a identidade dos ladrões.
Eduardo Cunha, de quem Arthur Lira é o seguidor mais prodigioso, inovou o dicionário do cinismo político nacional dizendo que não era proprietário das contas bancárias no exterior abastecidas com dinheiro de corrupção, mas que era apenas um usufrutuário da dinheirama roubada.
Existem R$ 4,4 milhões à espera do seu usufrutuário. A questão é saber quem, da turma do Lira, se habilitará para usufruir da dinheirama roubada. Existem R$ 4,4 milhões à espera do seu pilantra usufrutuário.
Publicado originalmente no blog do Jeferson Miola