Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PL) em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, diz que recebia dinheiro do clã Bolsonaro para ficar em silêncio, de acordo com informações do colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles.
O caso das rachadinhas, cuja investigação oficial acabou enterrada no Judiciário, entrou para o extenso rol dos escândalos políticos do país que ficam sem punição. Queiroz, porém, continuou a ser um fantasma a assombrar a família Bolsonaro.
Na semana passada, veio à tona que ele recorria a Alexandre Santini, ex-sócio de Flávio em uma loja de chocolates que segundo o Ministério Público (MP) foi usada para lavar dinheiro de origem ilícita, para mandar recados e pedir dinheiro. Eram, claramente, pagamentos que ele cobrava do clã para se manter em silêncio.
As mensagens foram enviadas por WhatsApp a Santini quando Queiroz e os Bolsonaro, em razão das investigações sobre as rachadinhas, vinham evitando o contato direto.
Para além de pedir mais dinheiro na forma de “empréstimos” para serem quitados posteriormente não por ele próprio, mas por Flávio Bolsonaro, Queiroz admite que recebeu apoio financeiro, reclama por considerar que não vinha tendo tratamento igual ao de outros aliados dos Bolsonaro e diz, sem reservas, ter conhecimento de vários rolos relacionados à família.
No final de 2022, Queiroz procurou Alexandre Santini porque estava precisando de socorro financeiro. Ele não sabia, mas Santini estava rompido com Flávio Bolsonaro.
Os dois se aproximaram quando Flávio ainda era deputado estadual no Rio. Tornaram-se amigos. No auge do caso das rachadinhas, no qual ambos estiveram sob investigação do MP – Queiroz como operador do esquema e Santini como sócio da loja da Kopenhagen –, era por meio dessa conexão que o ex-assessor de Flávio mantinha contatos com a então família presidencial para pedir proteção e dinheiro.
Queiroz diz estar passando por dificuldades (“Você não tem noção da fogueira que eu tô pulando”), reclama que não teria sido suficientemente amparado e se gaba da lealdade ao clã.
Dirigindo-se a Santini, ele afirma: “Se acontecesse com você o que aconteceu comigo, você bancava até o final também, (porque) tu é homem”.
“Desligou na minha cara”
Queiroz e Santini tinham acabado de restabelecer o contato, depois de passarem um tempo sem se falar – por um período, em razão das investigações sobre as rachadinhas, Santini seguia muito próximo de Flávio Bolsonaro, e a ordem para quem estava no entorno do senador era para evitar conversas por telefone com Queiroz.
“Não sei nem se eu posso te chamar de meu amigo, porque uma vez que eu liguei pra você, e você disse que não podia mais falar comigo e desligou o telefone na minha cara”, queixa-se o ex-assessor.
Logo em seguida, sem meias palavras, ele diz o que queria: “Tô passando uma dificuldade muito grande, e eu tô precisando de um dinheiro, tá? Natal chegando aqui… Tô com problema financeiro mesmo, irmão”.
É neste momento que Queiroz admite que costumava receber ajuda: “Não é com migalhas que me dão aí de vez em quando que resolve a minha vida, não, cara”.
Desamparado
Em mais um áudio, Queiroz diz que seus filhos estão desamparados. Afirma que dois deles, Felipe e Nathália, até haviam conseguido alguma renda com o auxílio de um aliado de Flávio Bolsonaro, mas que, como vieram a público as contratações secretas realizadas por meio do Ceperj, uma fundação ligada ao governo do Rio, acabaram perdendo a boquinha.
“Então, Santini. A minha vida é basicamente o seguinte: eu vivo do meu salário, entendeu, as minhas filhas, a Evelyn sai pra trabalhar as 3 horas da manhã, ganha um salário de merda de 3 mil reais (…) É… meus filhos, o Felipe e a Nathália foram enganados, entendeu?”, diz Queiroz no áudio em questão.
“A minha família, pelo que eu to vendo tá sendo tratada igual lixo, cara. Igual lixo. Tá todo mundo arrumadinho, irmão. Todo mundo arrumado”.
Empréstimo para Flávio Bolsonaro pagar
Queiroz diz que não mandaria mensagem diretamente para Flávio Bolsonaro para não colocá-lo em risco, já que o país estava, segundo ele, passando por uma “situação complicada” logo após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais.
O ex-assessor ainda aproveita o momento para atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e novamente reclamar do tratamento que a família Bolsonaro vinha lhe fornecendo.
Por fim, ele pede dinheiro a Santini, fala em empréstimo, mas afirma que quem iria pagar seria “o amigo” – em referência a Flávio Bolsonaro.
“Eu tô precisando de uma grana emprestada aí e depois eu vejo com o amigo lá pra te pagar aí, cara”, diz.
“Eu sei que eles (os Bolsonaro) estão numa sinuca de bico do c. Acho que eles queriam tudo na vida, menos esses problemas que estão enfrentando com esse bandido aí voltando ao poder”.
Irritação e ameaça
Os áudios também mostram que a família de Queiroz estava habituada a pedir auxílios de todo tipo a pessoas da estrita confiança do clã Bolsonaro, inclusive para pagar mensalidades da faculdade dos filhos.
Em outro áudio, o ex-assessor chega a dizer que sua mulher havia procurado Victor Granado, outro ex-assessor de Flávio Bolsonaro, pedindo dinheiro para colocar em dia os boletos do curso de sua filha Evelyn.
“Acumula, fica seis meses, ela liga, se não ela não pode renovar a matrícula. Eles fizeram faculdade, eles são tudo faculdade particular, eles sabem como é que funciona isso”, queixa-se.
“A mulher do Victor tá lá pendurada no gabinete ganhando 20 mil, o Victor tá com um contrato milionário com a Luciana… Eu não sou otário, pô, eu sei de tudo, entendeu?”, diz.