Rádio entrevista Bolsonaro 10 vezes em dois meses e vira a voz da extrema-direita

Atualizado em 4 de novembro de 2024 às 13:55
Alexandre Pittoli, diretor da rádio Auriverde Brasil, entrevistando o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

Uma rádio de Bauru, no interior de São Paulo, tornou-se um importante espaço para as vozes bolsonaristas, após o rompimento com a rede Jovem Pan. Fundada há quase 70 anos, a Rádio Auriverde Brasil entrevistou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dez vezes desde setembro de 2024, consolidando-se como uma plataforma para ele e seus aliados.

A ruptura com a Jovem Pan, segundo Alexandre Pittoli, diretor da rádio, foi motivada por pressões financeiras e políticas. A rádio havia se afiliado à rede em 2017, mas em outubro de 2023, teve a parceria encerrada abruptamente, o que Pittoli descreveu como uma “expulsão”.

Em depoimento no Senado, ele afirmou que foi convocado para uma reunião na sede da Jovem Pan, em São Paulo, em janeiro de 2023, onde foi alertado de possíveis consequências legais. Segundo Pittoli, a rádio foi ameaçada por solicitar doações aos ouvintes via Pix após a desmonetização dos canais da Jovem Pan no YouTube em 2022. “Eu tenho um áudio de um diretor da rede, me ameaçando, em especial com relação às questões envolvendo o Pix, porque o objetivo era sufocar a gente”, declarou.

Além das dificuldades financeiras, a rádio Auriverde enfrentou tensões ideológicas na Jovem Pan, que, conforme o diretor da rádio no interior, teria feito “uma espécie de acordo” para demitir comentaristas após a vitória de Lula nas eleições de 2022. Pittoli afirmou que a emissora “entregou” jornalistas que divergiam do posicionamento da nova administração.

Segundo o Uol, a Jovem Pan respondeu a essas alegações com uma notificação extrajudicial, exigindo retratação sobre o suposto acordo com o STF para as demissões. De acordo com a defesa do diretor da Auriverde, ele se referiu à pressão do Ministério Público Federal e não diretamente ao Supremo.

Alexandre Pittoli, diretor da rádio Auriverde Brasil, com Jair Bolsonaro em São Paulo. Foto: reprodução

Após o desligamento da Jovem Pan, a Auriverde passou a transmitir entrevistas com figuras que antes foram escanteadas pela rádio paulistana, incluindo jornalistas investigados e foragidos no exterior, como Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, e o comentarista Paulo Figueiredo, ligado ao bolsonarismo.

Durante as entrevistas, Bolsonaro e seus aliados utilizaram a plataforma para atacar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e lançar críticas a adversários na direita. O ex-presidente também negou qualquer tentativa de golpe ao final das eleições de 2022, usando a rádio para rebater acusações e defender sua posição.

Pittoli acompanhou Bolsonaro em eventos como a posse do presidente argentino Javier Milei em 2023 e recentemente recebeu do líder da extrema-direita no Brasil a “Medalha 3 Ms”, com a descrição “imbrochável, imorrível e incomível”, em reconhecimento à sua lealdade.

Em transmissão durante o segundo turno das eleições municipais, a rádio voltou a levantar suspeitas sobre a integridade das urnas eletrônicas. Pittoli sugeriu, sem evidências, que os resultados poderiam favorecer candidatos do PSOL e PSD em São Paulo e Curitiba. “Incrível, hein? Abre com um percentual e não muda?”, questionou, ao observar a contagem de votos na capital paranaense.

Atualmente, a Auriverde faz campanha pela adoção do voto impresso, para que as urnas emitam comprovantes físicos que permitam uma recontagem, proposta já rejeitada pelo Congresso em 2021. A rádio utiliza seu espaço para pressionar pela discussão do tema na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, presidida pela deputada Caroline De Toni (PL-SC) até fevereiro de 2025.

Conheça as redes sociais do DCM:
⚪️Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
?Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line