POR GILBERTO NASCIMENTO
O bispo Edir Macedo perdeu definitivamente os templos de sua igreja, a Universal do Reino de Deus, em Angola, e teve também suspensas no país, na semana passada, as atividades de sua emissora de TV, a Record.
Há um temor entre líderes da instituição de que ações semelhantes possam ocorrer em outros países.
Em Angola, 51 dos cerca de 90 pastores e missionários brasileiros da instituição começaram a ser avisados pelo Serviço de Migração e Estrangeiros de que deverão deixar o país o mais rápido possível.
Os vistos dos religiosos brasileiros, ao vencerem, não deverão ser renovados, segundo o governo.
A suspensão da TV Record de Angola ocorreu em razão de a emissora ter como principal dirigente um brasileiro, o também pastor Fernando Teixeira, quando a lei local exige que seja administrada por um angolano.
O ato não deixou de ser uma retaliação: a Record de Angola, como também a Record África e a matriz no Brasil vinham fazendo ataques ao governo, à Justiça angolana e aos novos líderes da igreja no país.
As últimas decisões do governo angolano representaram uma pá de cal na tentativa de Macedo de conter o movimento de religiosos locais iniciado no final de 2019, e assim retomar o controle de seus templos.
O quadro para Macedo, a partir de agora, tende a se agravar.
Ouvido pelo DCM na tarde de sábado, dia 24, o bispo Felner Batalha, porta-voz e um dos líderes da chamada Reforma da IURD em Angola, disse que a reprodução do movimento iniciado ali começa a dar sinais em outros países, e deve chegar em breve ao Brasil.
“Eu acredito que a reforma da Igreja Universal vai acontecer aí no Brasil. Quem viver, verá. Vai acontecer em Portugal, na Argentina, nos Estados Unidos. Vai acontecer em Moçambique, na África do Sul, na Alemanha, em todos os países onde está a igreja”, sentenciou.
Os problemas ocorridos em Angola são os mesmos em todos os países, observou Batalha.
“As táticas são as mesmas e os pastores estão cansados de viver na opressão, na humilhação e discriminação. Então, a reforma é irreversível, vai acontecer”.
O bispo angolano diz não poder dar detalhes de movimentos semelhantes iniciados em outros países, pois “talvez atrapalhe o processo dos locais que eu citar”.
“Durante muito tempo todo o mundo acreditou que o bispo Macedo era intocável e que ele não perdia nenhuma causa. Mas o que está acontecendo aqui em Angola é prova de que o bispo Macedo não é invencível. E quando há injustiças e crimes, quem de direito tem de pagar”, afirma Batalha.
Os bispos e pastores angolanos, após vários protestos contra a direção brasileira da Universal, romperam definitivamente com Macedo em junho do ano passado, quando assumiram o controle da maioria dos 400 templos da Universal no país.
O bispo Batalha, antes, chegou a enviar uma carta a Edir Macedo relatando problemas no país e pedindo providências ao líder máximo da Igreja. Disse não ter recebido resposta.
Na Justiça, os novos líderes angolanos acusaram a direção brasileira da IURD de vários crimes, entre eles racismo, fraudes, evasão de divisas e expatriação de capitais.
As denúncias formalizadas foram encaminhadas à Procuradoria Geral da República de Angola no ano passado. Bispos e brasileiros envolvidos em supostas irregularidades devem ser julgados em breve no País.
A Universal arrecada cerca de US$ 80 milhões ao ano em Angola. Esse dinheiro não ficava no país, segundo os novos líderes angolanos, o que gerou a insatisfação e, em seguida, a rebelião.
Edir Macedo pediu ajuda ao presidente Jair Bolsonaro para que tentasse interceder junto ao governo angolano. Bolsonaro enviou uma carta ao colega João Lourenço, pedindo um “tratamento adequado” aos brasileiros e à Universal.
Mas não adiantou. As decisões do governo de Angola têm sido favoráveis aos líderes locais. A Universal se diz vítima de “um golpe religioso” e acusa os novos líderes de serem “ex-pastores afastados por envolvimento em denúncias e irregularidades”.