Regina Duarte entrou numa fria. Nos discursos de posse, ela e Bolsonaro duelaram, numa reprodução da onda que já tomava conta da rede social e que se resume numa frase :“Fora, Regina Duarte”.
A atriz, de 73 anos, lembrou que é filha de pai militar e mãe professora de piano, criada com quatro irmãos, mãe de três filhos, avó de seis netos. É atriz de destaque na televisão há mais de 50 anos.
A partir de hoje, ela está em “momento probatório”, como lembrou Bolsonaro em seu discurso, depois de ouvir dela que havia lhe prometido uma secretaria de “porteira fechada”.
“Regina, todos os meus ministros também receberam o ministério de porteira fechada. É o linguajar político, ou seja, tem liberdade para escolher seu time”, afirmou, para acrescentar que não é bem assim.
“Obviamente, em alguns momentos, eu exerço o poder de veto em alguns nomes. Já o fiz em todos os ministérios. Até porque, para proteger a autoridade, que por vezes desconhece algo que chega ao nosso conhecimento. Isso não é perseguir ninguém. É colocar o ministério, as secretarias, na direção que foi tomada pelo chefe do Executivo”, destacou.
Ou seja, quem manda é ele.
Os bolsonaristas estão revoltados com a demissão da equipe de Roberto Alvim, fã do ministro nazista Joseph Goebbels, e também com a nomeação por Regina Duarte de Marcos Teixeira Campos para o cargo de presidente substituto na Fundação Nacional das Artes, a Funarte.
Segundo um site bolsonarista, Marcos é ligado ao PSOL do Rio de Janeiro e já participou de movimentos grevistas.
Antes da fala de Bolsonaro, Regina Duarte já tinha revelado que enfrenta as ondas de adversidade, expressão muito apropriada para quem foi brindada por um comentário agressivo do guru de seu agora chefe.
“Aplaudir a indicação da Regina Duarte parece ter sido uma cagada minha, mais uma entre tantas. Não sei onde vou arranjar tanto papel higiênico”, escreveu Olavo de Carvalho no Facebook pouco antes da posse, para a qual não foi convidado.
Regina Duarte vai descobrir da pior maneira que Bolsonaro representa as profundezas do inferno de Dante, como advertiu, há cerca de 30 anos, o ministro que o julgou no Superior Tribunal Militar, José Luiz Clerot.
E talvez ela não tenha chance nem de dialogar com o chefe sobre suas dificuldades.
Como disse Bolsonaro em seu discurso, para chegar até ele, Regina Duarte terá que passar por Michelle Bolsonaro.
Incrível, mas foi isso mesmo que ele disse.
“Você tem aqui um amigo e a grande fonte para chegar até ele está ao seu lado”, afirmou. Era Michele que estava ao lado, para quem ela olha e ri. Um sorriso meio sem graça.
Sem acesso direto a Bolsonaro, reduzida à quase uma estagiária em momento probatório, Regina deveria deixar ali mesmo o governo.
Mas ela pagou para ver. E sua passagem pelo governo de extrema direita será dolorosa, muito pior que um pesadelo.
Se não merecesse passar por isso, pelo que fez pela ascensão da extrema direita no Brasil, até poderíamos sentir pena de Regina Duarte.