Na arte de pensar, nada é mais natural e salutar do que mudar de opinião. Rever seus próprios conceitos acerca dos mais variados temas é, por natureza, um dos mais corajosos exercícios de aprendizagem e organização do conhecimento.
Pautado na correção moral e na fidelidade de seus valores mais inegociáveis, mudar de opinião pode representar um poderoso instrumento de evolução pessoal na incessante necessidade de nos renovarmos.
O problema surge, no entanto, quando a intenção é motivada exclusivamente por nossas inclinações pessoais. Nada possui menor valor moral do que fazer o certo por motivos errados.
E no conturbado cenário político e social que vive o país, ninguém representa melhor esse tipo de falso moralismo forjado à conveniência das situações do que Reinaldo Azevedo e Cristovam Buarque.
Ambos, respectivamente, outrora representavam com precisão os valores mais arraigados da corrente à direita e à esquerda do campo político.
Enquanto Reinaldo — um conservador xiita incapaz de enxergar além do que permitia as viseiras de sua ortodoxia — primava em desqualificar e criminalizar tudo e todos que não coadunavam com a sua forma de pensar, Cristovam brilhava com a sua tolerância à pluralidade de ideias.
Hoje, nas imprevisíveis voltas que o mundo dá, temos um Buarque tão obtuso e visceralmente ligado ao proselitismo de direita que, na prática parlamentar, de pouco a nada difere de um brucutu como Jair Bolsonaro.
Por outro lado vemos Azevedo, um até então vigoroso defensor da Lava Jato, no momento às voltas para denunciar os abusos e ilegalidades inegavelmente cometidos pelo conchavo de Curitiba (isso agora que a operação chegou aos seus).
Nem um nem outro, nas atuais personagens que as circunstâncias assim os exigiram, merecem absolutamente qualquer credibilidade.
Por mais conservador e defensor da direita que você possa ser, não há nenhuma razão para levar a sério um homem que mudou tão radicalmente de posição exclusivamente por rancor e mágoa.
Cristovam Buarque foi incapaz de superar sua demissão por Lula e hoje, cego pelos sentimentos mais medíocres, nega tudo o que um dia defendeu.
Da mesma forma, chega a ser uma infantilidade da esquerda brasileira querer exaltar Reinaldo Azevedo pelas recentes defesas que fez à manutenção do Estado Democrático de Direito.
Como já dito, não existe nobreza em atos certos motivados por razões erradas.
Reinaldo é um dos grandes responsáveis pelo clima de ódio que se formou por uma elite burra e preconceituosa em torno de Lula e do PT.
Nada, absolutamente nada no atual discurso de Reinaldo representa alguma novidade para o que sempre a esquerda defendeu.
O que ele hoje defende, por puro oportunismo e exclusivamente em benefício da corja que o alimenta como Aécio Neves e Michel Temer, já foi mais e melhor defendido por inúmeros artistas, intelectuais, juristas e políticos comprometidos com a legalidade nas ações judiciais.
A sua defesa por um verdadeiro Estado Democrático de Direita, à luz do que historicamente sempre desejou para os seus inimigos, é simplesmente um acinte.
À esquerda e à direita, Reinaldo Azevedo e Cristovam Buarque, respectivamente, não passam de uma farsa. Ao negarem os seus valores por motivos quase que bestiais, ignoram que não possuem respaldo algum na defesa de suas “novas” bandeiras.
Da mesma forma que não aconselho ninguém de direita dar ouvidos a um sujeito que só compartilha de seus princípios em função de ter sido corrompido pela invídia, considero uma insensatez a esquerda abraçar um inquisidor que finge-se um democrata.
Reinaldo Azevedo e Cristovam Buarque são hoje estranhos no ninho. Ao cruzarem fronteiras ideológicas que nunca compartilharam por pura conveniência política, encontram-se simbolicamente no meio de uma pinguela onde não é possível avançar nem retroceder.
Da mesma forma que não são aceitos na nova seara, também não são perdoados pelos seus antigos convivas. Ironicamente, seres tão diferentes caminham abraçados para a incredulidade e para o esquecimento.
A covardia do intelecto tem o seu preço. E normalmente, costuma ser caro.