Há 50 anos nas redações, o ex-global e ex-porta-voz do ditador Figueiredo Alexandre Garcia tornou-se atualmente um grande propagador de fake news contra o governo do presidente Lula, nos veículos que ainda o empregam e em “comentários políticos” em sites e rádios de direita, que reproduzem suas falas e vídeos.

Garcia, com o aval da família Bolsonaro, montou uma rede de contatos, especialmente em rádios que vão de São Paulo e Santa Catarina ao Rio Grande do Sul, aproveitando a tragédia climática. Os comentários, ato contínuo, são reproduzidos em massa nas redes sociais bolsonaristas. Além de grupos de WhatsApp e Telegram. E viram “verdades”.

Garcia espalha, sem citar fontes, as mais recorrentes fake news, uma forma, já percebida pelo governo, de desacreditar o trabalho de Lula, falando em sumiço de mercadorias doadas de armazéns, falta de socorro às vítimas e impedimento da distribuição de produtos por falta de nota fiscal.

Uma rede de rádios distribui seus comentários, que podem ser ouvidos, quase diariamente, em veículos os mais diversos – fora do radar da grande mídia – como as rádios Auriverde Bauru (SP), Mirador 98,5 FM, de Rio do Sul (SC), Cruzeiro FM 92,3 FM , de Sorocaba (SP), Jaraguá 101,3 FM, de Jaraguá so Sul (SC), Sintonia 94,7, de Ituporanga (SC), entre outras.

O foco são críticas ácidas a Lula, ao ex-ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), Paulo Pimenta, ao PT, apresentado como “interventor” no Rio Grande, e, em contrapatida, elogios ao governador Eduardo Leite, ao agronegócio e ao setor privado. O DCM ouviu dezenas de comentários de Garcia, em todas essas rádios e em outros veículos, e confirmou a divulgação de fake news em massa.

“Há falta de lugares para armazenar tantos donativos. E, claro, tem quadrilhas que se aproveitam para fazer saques ou levar drogas e armas”, disse, sem provas, num comentário na TV da Revista Oeste, no programa “Palavra Final”.

“Quadrilhas estão dominando lugares que foram inundados, saqueiam casas, depósitos, casas e ameaçam pessoas em abrigos”, espalhou, em outra edição do mesmo programa, procurando mostrar proximidade dos governadores de direita. “Vou até o governador (Leite) para ele conversar com os governadores (Ronaldo) Caiado (GO) e Tarcísio (de Freitas, de SP) pra ver o que eles estão fazendo lá. Bandido hoje tá na pior em Goiás e São Paulo”, emendou.

“Não é fake que a burocracia está atrapalhando o fluxo de donativos. Um médico (não disse o nome) disse que aviões cheios de medicamentos, aviões particulares, mas a Anvisa não libera”, ventilou, em um vídeo em sua conta Youtube, com 2,75 milhões de inscritos. “O presidente Lula indicou o Paulo Pimenta, que vai se preparar para ser candidato ao governo. (..) E a burocracia se mistura com as ideologias, que estão em jogo”, especulou na rádio Cruzeiro FM 92,3.

“A iniciativa privada em tudo no Rio Grande do Sul está sendo mais ágil, mais forte e eficaz que o estado brasileiro”. (…) E os voluntários estão estabelecendo lei marcial nos abrigos, se tocar numa criança ou mulher, vai ser justiçado lá mesmo”, garantiu no Jornal da Manhã, da Rádio Araguaia. Uma denúncia grave, nunca provada.

A narrativa que se tenta impor é de que o povo está abandonado pelo governo federal e que está resolvendo sozinho como sair da calamidade, ou com ajuda de empresas privadas, ou sendo salvo por ações isoladas do “homem do colete laranja” da Defesa Civil, o governador tucano Eduardo Leite.

Garcia também é colunista da tradicional Gazeta do Povo, de extrema-direita, e a “revista” Oeste, que arregimetaram os maiores influenciadores digitais da direita brasileira. A maioria vinda da Jovem Pan News, que deu uma limpa em parte da criadagem.

Ali também espalha fake news, criando narrativas categóricas, de fácil absorção pelas pessoas. Há precedentes, raros, de retratações, que, se a lei for seguida à risca, deveriam se repetir.

Em setembro do ano passado, Garcia foi obrigado a ler, em seu YouTube, direito de resposta ordenado pela Advocacia-Geral da União, para desmentir informações falsas difundidas sobre as chuvas no RS. Garcia havia acusado, em uma transmissão no programa “Oeste Sem Filtro”, versão virtual da Revista Oeste, o governo Lula de construir represas pequenas que teriam provocado enxurradas. Não apresentou, como sempre, evidências.

Num prenúncio das tragédias de hoje, a região serrana gaúcha e do Vale do Rio Taquari foi castigada à época por fortes chuvas que causaram grandes inundações, mortes e estragos.

Garcia tem uma extensa folha de serviços a golpistas. Foi demitido pelo general João Figueiredo após ter posado deitado numa cama, coberto por um lençol e com o peito nu, para a revista Ele&Ela, falando que ali abatia suas “lebres”. Anos depois, foi afastado da CNN, em plena pandemia, após incentivar, ao vivo, o uso de tratamento precoce com drogas ineficazes contra a Covid-19.

Algumas de suas fake news recentes:

“Há falta de lugares para armazenar tantos donativos. E claro, tem quadrilhas que se aproveitam pra fazer saques ou levar drogas e armas”. (…) Comentário na Revista Oeste, no programa “Palavra Final”

“Quadrilhas estão dominando lugares que foram inundados, saqueiam casas, depósitos, casas e ameaçam pessoas em abrigos. Vou até o governador (Leite) pra ele conversar com os govrnadores Caiado e Tarcísio pra ver o que eles estão fazendo lá. Bandido hoje tá na pior em Goiás e São Paulo”. Comentário na Revista Oeste, no programa “Palavra Final”

“Não é fake que a burocracia está atrapalhando o fluxo de donativos. Um médico disse que aviões cheios de medicamentos, aviões particulares, mas a Anvisa não libera”. Em vídeo no Youtube, com 2,75 milhões de inscritos

“O vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, diz que a burocracia do governo emperra tudo. Tanto que a iniciativa em tudo no Rio Grande do Sul está sendo mais ágil, mais forte e eficaz que o estado brasileiro”. (…) A iniciativa privada está fazendo grande trabalho. E os voluntários estão estabelecendo lei marcial nos abrigos, se tocar numa criança ou mulher, vai ser justiçado lá mesmo”. Jornal da Manhã, da Rádio Araguaia