A reunião ministerial de 5 de julho de 2022, tornou-se um ponto crucial na investigação da Operação Tempus Veritatis, que visa desvendar uma suposta tentativa de golpe liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alguns generais e seus aliados. Com informações da IstoÉ:
Nessa ocasião, Bolsonaro expressou claramente suas intenções aos ministros presentes: minar a confiança no sistema eleitoral e tomar medidas decisivas antes das eleições. Suas palavras foram prenúncio de ações subsequentes que se concretizaram ao longo do tempo.
1. Desacreditar as Urnas Eleitorais:
“Vou fazer uma reunião quinta-feira com embaixadores e semana que vem com mais. Vou convidar autoridades do judiciário para outra reunião para mostrar o que está acontecendo. […] A guerra de papel e caneta, a gente não vai ganhar essa guerra. A gente tem que ser mais contundente, como eu vou começar a ser com os embaixadores”, disse Jair Bolsonaro.
Menos de um mês depois, em 18 de julho, ele concretizou essa ação, atacando o processo eleitoral brasileiro e criticando ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
2. Atuar Antes das Eleições:
“Nós sabemos que se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira o Brasil. […] Não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. […] A guerra de papel e caneta, a gente não vai ganhar essa guerra. A gente tem que ser mais contundente”, afirmou.
A subsequente investigação revelou uma série de medidas tomadas por ele e seus aliados para desacreditar as urnas eletrônicas e promover um golpe de Estado.
3. Questionamentos da Polícia Federal:
“Nós montamos um grupo na Polícia Federal com uma equipe completa, com delegados, peritos e agentes, para acompanhar, realmente, o passo a passo das eleições, para fazer os questionamentos necessários que têm de ser feito, e não só as observações. A gente vai atuar de forma incisiva”, disse Anderson Torres, então ministro da Justiça e Segurança Pública.
Após as declarações, a Polícia Federal foi usada por Torres, para tentar descredibilizar as urnas eletrônicas. Em ofício enviado pouco dias antes da reunião, o ex-ministro afirmou ao presidente do TSE, Edson Fachin, que a PF participaria de todo o processo de fiscalização e que isso era importante para “resguardar o Estado democrático de Direito”.
4. Participação do Ministério da Defesa:
“Senhores, a Comissão [Eleitoral] é para inglês ver. Nunca essa Comissão sentou na mesa e discutiu uma proposta. […] O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Na guerra, a gente tem linha de contato, linha de partida. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação. E eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido para que a gente não fique sozinhos no processo”, declarou Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, então ministro da Defesa.
O Ministério da Defesa se envolveu na Comissão de Transparência das Eleições (CTE) do TSE. Embora tenham feito questionamentos à Justiça Eleitoral, não encontraram fraudes. Porém, a falta de capacidade de verificar o funcionamento dos códigos da urna eletrônica foi notada.
5. Monitoramento pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin):
“O problema da inteligência… Eu já conversei ontem com o Vitor, novo diretor da Abin, nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo. O problema todo disso é se vazar, a gente se conhece nesse meio. Se houver acusação de infiltração em qualquer dos lados”, disse o general Augusto Heleno, então chefe do GSI.
A confirmação sobre o uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme sugerido por Heleno, ainda não está estabelecida. No entanto, uma operação recente da Polícia Federal, iniciada no final de janeiro, está investigando a possível utilização de sistemas da Abin para realizar espionagem ilegal contra os opositores políticos de Bolsonaro.
6. Alinhamento de Discursos:
“Daqui pra frente, quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai ter que falar pra mim por que que ele não quer falar”, afirmou Bolsonaro.
No contexto da Operação Tempus Veritatis, a Polícia Federal identificou a existência de um grupo dedicado à desinformação e ataques ao sistema eleitoral. Esse grupo incluía o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de Ordens de Bolsonaro, e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres. Eles estavam envolvidos na produção, divulgação e amplificação de notícias falsas sobre a integridade das eleições, buscando legitimar uma possível intervenção das Forças Armadas.
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