“O que aconteceu foi uma ilegalidade”, disse Maria Ester Moreira depois de ter sido exonerada do cargo de coordenadora da Funarte por se opor à censura da peça Res Publica 2023. O espetáculo narra a vida de minorais em meio a um Brasil distópico e fascista de 2023 e foi impedido de ocupar um espaço na Funarte pelo diretor do Centro de Artes Cênicas do órgão, Roberto Alvim.
A exoneração de Maria levou a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, a exigir de Alvim explicações sobre motivo do veto. Como resposta, o diretor disse que a peça possuía “apenas um discurso político”, além de afirmar que não havia “estética” nela.
“A Funarte não tem uma comissão pública que possa julgar a ‘qualidade estética’ de um espetáculo. Em nenhum lugar dos estatutos está a exigência de qualidade estética”, retrucou a ex-coordenadora, desmentindo a explicação dada por Alvim.
A fim de mostrar algum tipo de resistência à censura, a prefeitura de São Paulo lançou o festival Verão Sem Censura, que dará espaço para exibição de obras vetadas pelas instituições parceiras do Governo Federal. A Res Publica já está sendo exibida, nas salas do Centro Cultural São Paulo (CCSP).
A universitária Vivian Furukava foi conferir o espetáculo nesse final de semana e afirma ter sentido uma intensidade na obra. “O discurso direto com o telespectador sobre um assunto tão sensível pode trazer conflitos de opiniões e interesses”, comenta. Para ela, esse foi o principal motivo da censura.
O doutor em Ciências Políticas Rogério Tineu acredita que houve uma ilegalidade no caso porque “a decisão vai contra a liberdade de expressão e o estado democrático de direito”.
Tineu também comenta que esse movimento não é isolado da postura federal diante da arte. “O governo brasileiro, na atualidade, mostra com suas atitudes que trata a cultura com forte viés ideológico e religioso”, reforça.
A desvalorização da arte e da cultura também fica claro com a transferência da Secretaria Especial da Cultura para o Ministério do Turismo, decisão autorizada pelo presidente Jair Bolsonaro.
“No período da redemocratização, uma grande conquista para a cultura foi sua desvinculação do Ministério da Educação. Agora, ela, além de perder sua condição de Ministério, é submetida a um outro”, o cientista critica.