Resgatado de trabalho escravo em vinícola afirma que houve ordem para “matar os baianos”

Atualizado em 1 de março de 2023 às 16:39
Mais de 200 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves, no RS
Foto: Reprodução

Durante o depoimento ao Ministério Público do Trabalho (MPT) de três homens resgatados de situação análoga à escravidão nas vinícolas Salton, Aurora e Garibaldi, no Rio Grande do Sul (RS), um deles informou ter escutado uma ordem de “matar os trabalhadores baianos”. O trio relatou várias agressões, refeições insalubres e uma jornada de trabalho exaustiva, de 12 horas por dia.

O trabalhador ainda relatou que, na véspera da fuga, foi cercado por quatro seguranças que o espancaram com cabo de vassoura, usaram spray de pimenta e o morderam. Outro dos homens contou que policiais militares atuavam como cúmplices das empresas e que os agentes espancavam e ameaçavam de morte os operários.

No depoimento, os três funcionários relembraram a rotina vivida dentro da vinícola. Após a colheita, eles eram recebidos nos alojamentos por seguranças do chefe da empresa. Agressões em formas de mordidas, choques, socos e enforcamentos eram o tratamento comum dado a eles.

Os homens, empregados pela Fênix Prestação de Serviços, que operava de forma terceirizada para as três vinícolas, decidiram, no dia 21 de fevereiro, enviar um vídeo no grupo de WhatsApp da empresa para denunciar as condições de trabalho. Na gravação, o trio, encharcado, apresentou o prato de comida que haviam recebido: arroz, feijão e frango com aspecto estragado.

Os alojamentos onde os trabalhadores ficavam
Foto: Reprodução/MPT

Os empregados vindos da Bahia chegaram a Bento Gonçalves (RS) para trabalhar nas vinícolas. O acordo em contrato assinado foi de que eles trabalhariam durante 45 dias, com jornada diária de 15 horas, por um valor de R$ 3 mil. O montante nunca foi pago.

O dono da empresa operava um pequeno mercado dentro da vinícola, onde vendia itens básicos aos trabalhadores. Em posse de R$ 400, fornecido pelo empregador, os homens deveriam comprar no local os materiais necessários. O valor dos produtos, contudo, estava muito acima do preço normal de mercado. Por exemplo, um pacote de bolacha de água e sal era vendido a R$ 15.

Sobre a higiene, o espaço de alojamento tinha somente quatro privadas para mais de 200 trabalhadores. Os quartos eram compostos por beliches amontoados, e sujos, e não recebiam qualquer tipo de limpeza ou manutenção. Além disso, quando utilizavam talheres, utensílios de higiene pessoal e, até mesmo, água, os funcionários também precisavam pagar.

Os crimes e denúncias continuam sendo investigados pela Corregedoria da Brigada Militar, a PM do Rio Grande do Sul (RS), e a Polícia Federal (PF).

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