Investigações das polícias Civil e Federal indicam que os principais suspeitos pelo “dia do fogo” no sudoeste do Pará são fazendeiros, madeireiros e empresários. Nos dias 10 e 11 de agosto, uma parte da Amazônia ao longo da BR-163 foi coberta por densas nuvens de fumaça. Segundo a ONG Repórter Brasil, que teve acesso às investigações, os responsáveis pelas queimadas criminosas chegaram a fazer uma “vaquinha” para multiplicar os focos de incêndio na região.
Com o dinheiro arrecadado, os suspeitos pagaram os custos do combustível — uma mistura de óleo diesel com gasolina — e contrataram motoqueiros para espalhar o líquido inflamável nas estradas de terra próximas à floresta. Passados dois meses do “dia do fogo”, ainda há grandes trechos de áreas queimadas na Floresta Nacional Jamanxim e na Reserva Biológica Nascentes Serra do Cachimbo.
Por serem pessoas influentes na região, os responsáveis pelas queimadas também estão dificultando as investigações, como denuncia um policial federal ouvido pela ONG na condição de anonimato. Segundo esse policial, os fazendeiros da região possuem interlocução com o alto escalão do governo federal.
A fonte também contou à Repórter Brasil que os suspeitos teriam relações estreitas com deputados e senadores do Pará. Nesta terça-feira (22), a operação “Pacto de Fogo” apreendeu documentos e computador pessoal de Agamenon Menezes, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso (PA) e um dos primeiros suspeitos ouvidos pela Polícia Civil.
Os policiais cumpriram outros três mandados de busca e apreensão, mas não informaram quais foram os alvos. Segundo a reportagem, a rixa entre as corporações Federal e Civil também colabora para o atraso nas investigações.
Conforme as investigações, os detalhes da queima coordenada foram articulados através de um grupo de WhatsApp, que teria sido criado pelo empresário Ricardo de Nadai, proprietário da loja de insumos agrícolas “Sertão”. O grupo de mesmo nome contava com 70 pessoas.
Mas as conversas sobre a ação começaram em outro grupo do aplicativo, nomeado “Jornal A Voz da Verdade”, com 256 integrantes (lotação máxima permitida pelo WhatsApp), entre eles autoridades da região, como Vicente Gomes, delegado da Polícia Civil e chefe da Superintendência do Tapajós, localizada a 400 quilômetros de Novo Progresso.
A reportagem informa que Gomes piorou a relação entre as polícias quando determinou ao delegado de Novo Progresso que não encaminhasse à PF os depoimentos que coletados pela Civil na cidade.
Procurado pela ONG, Gomes não quis comentar o assunto. A ideia do ataque incendiário, segundo o jornal local Folha do Progresso, era chamar a atenção do governo de Jair Bolsonaro (PSL). “Precisamos mostrar para o presidente que queremos trabalhar e o único jeito é derrubando. E, para formar e limpar nossas pastagens, é com fogo”, afirmou ao jornal um dos organizadores da ação.
Em toda a Amazônia, as queimadas no mês de agosto foram as maiores desde 2010, com 31 mil focos de incêndio registrados.