Ricardo Kotscho: caravanas de Lula mostram a divisão norte-sul do eleitorado

Atualizado em 19 de março de 2018 às 20:49
Lula no Sul

Publicado no Balaio do Kotscho

Do caminhão de som onde fez um discurso de apenas oito minutos, Lula pode assistir a uma manifestação inédita em suas caravanas pelo país, ao chegar à Unipampa (Universidade Federal do Pampa), criada em seu governo.

Logo na primeira parada da Caravana do Sul, em Bagé, na manhã desta segunda-feira, o ex-presidente encontrou militantes contrários à sua visita com camisas e adereços de Jair Bolsonaro, o segundo colocado nas pesquisas.

Com o apoio de entidades de produtores rurais e de lojistas, o ato de protesto contou com um boneco de Lula trancado numa cela, uma amostra do que o espera ao longo dos nove dias em que vai passar pelos três estados da região Sul, percorrendo 2,7 mil quilômetros por 26 cidades e prevê uma visita ao mausoléu de Getúlio Vargas. A viagem termina em Curitiba no dia 28.

Em seu discurso, Lula afirmou que “não esperava que nossa passagem por Bagé fizesse com que a direita fascista reclamasse junto ao Ministério Público para impedir de fazer um ato na universidade”.

Como tem feito em todas as suas manifestações nas últimas semanas, o ex-presidente defendeu seu direito de ser candidato:

“Nós queremos democracia. E democracia pressupõe eleição. E se eles estão preocupados com o fato de eu ser candidato, eles podem saber que nós vamos ganhar”.

O clima hostil foi exatamente o oposto das recepções calorosas que Lula encontrou nas caravanas do Rio de Janeiro para cima, no Nordeste e em Minas Gerais, mostrando a profunda divisão Norte-Sul do eleitorado, como se viu nas últimas eleições e é confirmado nas pesquisas presidenciais de 2018.

Uma hora depois, Lula seguiu para Santana do Livramento, na fronteira do Brasil com o Uruguai, onde se reuniria com o ex-presidente José Mujica.

A macrorregião da fronteira é um reduto da bancada ruralista, que prepara novas manifestações para os próximos dias, com bloqueios nas estradas por onde a caravana de Lula vai passar.

Temendo conflitos, o presidente do PT no Rio Grande do Sul, Pepe Vargas, reuniu-se na véspera com o secretário de Segurança, Cezar Schirmer. “Em caso de incidentes, será fácil identificar os responsáveis”, disse Vargas.

A Câmara Municipal de Bagé já tinha aprovado no início do mês uma mensagem de repúdio à passagem de Lula pela cidade.

Vida que segue.