Após a maior seca da história em 2023 que assolou o estado do Amazonas, o Rio Negro, um dos principais rios da região, voltou a subir em Manaus, trazendo alívio para as comunidades afetadas e reacendendo setores da economia dependente das águas fluviais e do turismo.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), os níveis dos rios da Amazônia estão gradativamente retornando ao normal, mesmo que a situação ainda não esteja totalmente estabilizada nos 62 municípios do estado, que permanecem em estado de emergência.
Com a melhora, o movimento fluvial e turístico tem registrado aumento, embora alguns desafios persistam. Misael Oliveira, marinheiro da Marina do Davi, disse em entrevista ao G1 que, apesar da retomada das atividades, a clientela ainda é escassa, sugerindo que a recuperação completa pode levar tempo.
No entanto, em lugares como o Lago do Puraquequara, a retomada é mais evidente, com a reabertura dos estabelecimentos e a volta dos visitantes. Erick Santos, comerciante local, destaca o aumento do fluxo turístico, ainda que seja necessário lidar com a vegetação que cresceu durante a seca, agora cobrindo as águas.
“Não encheu 100% ainda, mas a água tá subindo aos poucos. E aí a clientela voltou. Estamos recebendo turistas e gente de todas as classes que vêm aos fins de semana. [Final de semana] isso aqui lota. O rio é o ponto turístico e as pessoas vem pra ver ele. Quando o rio encher mais vai ficar ainda melhor”, contou Santos.
O Lago Tefé, anteriormente marcado pela trágica morte de mais de 200 botos, agora apresenta uma cena mais tranquila. Apesar disso, a causa da morte dos animais ainda está sob investigação do Instituto Mamirauá, com possíveis fatores incluindo mudanças climáticas e poluição.
Especialistas apontam que eventos climáticos extremos, como a seca severa, estão se tornando mais frequentes devido às mudanças climáticas induzidas pela atividade humana e pelo fenômeno El Niño. Erivaldo Cavalcanti, da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), falou da importância de enfrentar a poluição e a exploração desenfreada dos recursos naturais para proteger o ecossistema amazônico e sua biodiversidade.
“Na nossa região esse é o maior impacto, pois esses eventos afetam diretamente o El Niño, que altera toda a nossa biodiversidade com extremos hídricos, seja pela seca prolongada, como ocorreu no ano passado, ou com cheias incomuns que podem acontecer”, avaliou.
Cavalcanti também falou sobre a necessidade de ajuda para evitar que novos episódios extremos aconteçam, sendo preciso combater a poluição e o uso excessivo de recursos naturais.
“Temos aí também a expansão da fronteira agrícola em detrimento dos habitats naturais e a expansão urbana, e tudo isso coloca em xeque as espécies animais e vegetais. E aí podemos agregar os impactos futuros em virtude do ciclo reprodutivo na biota, além da quantidade brutal de carbono que ao ser jogado na atmosfera, intensifica ainda mais o aquecimento global que já está em estado crítico, um exemplo muito nítido se faz presente nos regimes hídricos da região”, finalizou.