Rivotril e malas prontas: como moradores de Maceió lidam com o risco de desabamento

Atualizado em 25 de janeiro de 2024 às 19:58
Casas são abandonadas em Maceió. Foto: reprodução

Após cerca de 2,5% do território de Maceió, capital do Alagoas, ser comprometido pelas ações da Braskem, que causou afundamento do solo pela mineração de salgema, moradores vivem em constante preocupação. Em matéria do Intercept Brasil, os maceioenses contaram que sobrevivem a base de Rivotril para controlar a ansiedade e dormem perto da porta para terem tempo de saírem do lar em caso de desabamento.

“Isso aqui é uma mala com todos os documentos da família. Na hora que precisar correr, é a primeira coisa que a gente vai puxar”, contou Joselma Evaristo Valério, moradora da comunidade dos Flexais, no bairro do Bebedou. Ela, e outros 3,2 mil moradores enfrentam o medo diário em Maceió.

A situação nas comunidades Flexal de Cima, Flexal de Baixo e Quebradas é crítica, com imóveis apresentando rachaduras, piso cedendo e buracos frequentes. Diferentemente de outros bairros evacuados após o desastre ambiental da Braskem, as autoridades não reconhecem o risco nas comunidades periféricas, negando aos moradores compensação financeira e direito à realocação.

Laudos técnicos encomendados por moradores em 2020 e 2022 indicam problemas estruturais relacionados a “recalques de fundação”. O primeiro laudo, de Alec Moura Sampaio, classificou 32 das 45 casas vistoriadas como de risco crítico. O segundo laudo, de Lucas Mattar Protasio Nunes, dois anos depois, mapeou problemas persistentes nas 62 casas analisadas.

Apesar dos alertas, a Defesa Civil Municipal de Maceió e a Braskem negam a relação entre os danos nas casas e a mineração. O arquiteto Dilson Batista Ferreira alega que um acordo financeiro impede a realocação, ressaltando que os moradores estão “totalmente ameaçados pelo crime ambiental da Braskem”.

Moradores, como Joselma e Maria Cleide, enfrentam dilemas emocionais, insônia e medo constante. A situação se agravou em dezembro de 2023 com o colapso da Mina 18 na Lagoa do Mundaú, próximo aos Flexais. A Defesa Civil recomendou a Joselma mudança, atribuindo os problemas a material de construção ruim, mas a nova casa também apresenta danos.

Estudos socioeconômicos e antropológicos destacam o isolamento das comunidades, sem escolas, postos de saúde e comércios nas proximidades. O acordo de R$ 1,7 bilhão entre a Braskem e a prefeitura, parte do Projeto Integração Urbana e Desenvolvimento dos Flexais, busca manter os moradores no local, mas críticos consideram a indenização de R$ 25 mil por núcleo familiar insuficiente.

A Defensoria Pública move uma Ação Civil Pública para rever o acordo, buscando garantir indenizações adequadas aos moradores. O defensor público Ricardo Melro destaca que R$ 25 mil deveria ser apenas uma quantia emergencial, não o total da indenização.

Com informações do site 082.

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