Um dos documentários mais impressionantes sobre o nazismo é “Ein deutsches Leben” (“Uma vida alemã”).
Mais exatamente sobre o grande mistério que foi a aceitação do nazismo pela sociedade daquele país.
Trata-se de uma entrevista com uma notável testemunha daquela era chamada Brunhilde Pomsel.
Então com 105, ela fora estenógrafa e secretária pessoal de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler, nos últimos três anos da Segunda Guerra Mundial.
O mesmo Goebbels citado por Roberto Alvim, secretário de Cultura do governo Bolsonaro, num vídeo que tem Wagner, o compositor favorito de Hitler, ao fundo.
Em preto e branco, o filme é um monólogo interrompido em pouco momentos por cenas documentais. Foi transformado, depois, numa peça de teatro.
Com uma sinceridade desconcertante, Brunhilde conta como seu chefe era educado, simpático, bom pai, bom marido.
Enfim, um cidadão de bem — que se transformava num monstro quando nos comícios.
“É importante, no fim da vida, ser colocada diante do espelho e reconhecer tudo o que se fez errado”, diz.
Ela afirma que não tinha ideia do que estava ocorrendo. A ficha caiu quando sua melhor amiga, uma judia, desapareceu.
Mas nem assim Brunhilde largou o emprego, a Alemanha ou foi para a resistência. Terminou no bunker de Hitler, presa pelo Exército Vermelho.
Ela é representativa de milhões colaboradores passivos que tornaram possível a tragédia. Jura que não tinha ciência dos campos de concentração.
Uma cena mostra-a bastante emocionada com a morte dos filhos de Goebbels, envenenados pelos pais. Não demonstra o mesmo sentimento quando menciona a execução de judeus, ciganos, comunistas…
Na quinta, dia 16, Jair Bolsonaro declarou que “esquerdistas não merecem ser tratados como pessoas normais”. Hitler desumanizou o judaísmo para ficar mais fácil eliminá-lo.
A tragédia anunciada tem a participação de que a banaliza ou justifica. O “isencionismo”, a omissão e o analfabetismo político têm preço.
O humorista Fábio Porchat, por exemplo, em sua falsa equivalência recheada de clichês.
“Não posso achar o Bolsonaro uma besta e o Lula safado ao mesmo tempo?”, questionou.
Pode, claro. É tudo igual, talquei?
Com todos os erros do PT, quando houve uma evocação evidente do nazismo?
“Olhar para o lado é culpa, sim, e ser apolítico já é culpa suficiente”, disse o diretor de “Uma Vida Alemã”, Florian Weigensamer.
“A intenção não foi desmascará-la como nazista. Isso ela decerto não era. Ela só era desinteressada – e isso é, justamente, uma forma de culpa”.
https://www.youtube.com/watch?v=nZr45w7iubI&t=43s