Eleito com a promessa de que inauguraria uma nova era na relação do Executivo com o Legislativo, Jair Bolsonaro assumiu o balcão de negócios e prepara um governo que será o circo de horrores.
As nomeações ainda não foram feitas, mas as conversas estão bem adiantadas e indicam que Bolsonaro quer como sócio da administração o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, presidente do PSD, a quem já sinalizou que pode entregar a Agricultura.
O Republicanos, partido de Edir Macedo e Marcelo Crivella, negociou um naco do Ministério da Saúde — pode ficar com o segundo escalão inteiro.
Paulinho da Força, que foi da tropa de choque de Eduardo Cunha, também negocia participação em ministérios, ao mesmo tempo em que Alberto Fraga, do DEM, defende esquartejamento do Ministério da Justiça, para ficar com a Segurança Pública.
Se não for Fraga o ministro, será alguém indicado por ele. Eduardo Bolsonaro já avisou que a família quer um “armamentista” no lugar de Moro — no caso, da parte do MInistério que resultaria da divisão da pasta, a Segurança Pública.
Fraga é coronel da PM do Distrito Federal aposentado e tem duas condenações na Justiça — uma por uso de arma de porte e posse restritos e outra por receber propina quando era secretário dos Transportes do Distrito Federal, segundo acusação do Ministério Público.
Roberto Jefferson é outro que pode ocupar espaço no governo, na área em que se sente mais à vontade, a do Trabalho, que já foi ministério, mas, como secretaria, mantém a prerrogativa de autorizar o funcionamento de sindicatos — patronais inclusive.
Ciro Nogueira, réu no STF por corrupção, deve ficar com o comando de pelo menos uma estatal, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e da Parnaíba
Bolsonaro também negocia cargos com Valdemar da Costa Neto, líder do PL, condenado no caso do mensalão.
Ele quer a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, para estabelecer uma espécie de condomínio no MInistério da Saúde.
Se não emplacar a Vigilância Sanitária, ficará com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), onde o dinheiro flui mais rapidamente.
A relação entre Bolsonaro e Valdemar é antiga e se intensificou em 2017, quando Bolsonaro namorou o mensaleiro para usar seu partido como legenda para as eleições do ano seguinte.
Na época, chegou-se até a estudar a mudança do nome do partido para “Muda Brasil”. Valdemar entendia que Bolsonaro não seria eleito, mas atrairia votos para os candidatos a deputado federal e seria possível eleger uma grande bancada.
Bolsonaro acabou namorando o Patriotas e depois se casou com o PSL, de quem já se divorciou. O negócio, literalmente, deixou de ser interessante.
Com esse troca-troca, Bolsonaro espera afastar o risco de impeachment ou da autorização de um processo criminal no STF, que também o afastaria da Presidência.
Para Bolsonaro, basta ter o compromisso de 172 parlamentares, que impediria a oposição de alcançar os 342 votos necessários para o afastamento.
Compromisso, para a base fisiológica formada pelo Centrão, significa dinheiro no bolso, e adiantado.
O cargo é só uma forma de obter recursos para compensar o patrocinador.
Expoente do baixo clero, categoria parlamentar que se notabiliza por fazer negócio no Legislativo, Bolsonaro finalmente monta seu próprio governo, à sua imagem e semelhança.