No dia 30 de maio, quando acompanhou Michel Temer no Fórum de Investimentos Brasil 2017, realizado em São Paulo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, selou seu destino e o do atual ocupante do Palácio do Planalto. Ele trabalha para assumir o lugar de Temer e, para as forças econômicas que atuaram para derrubar Dilma Rousseff, Maia reúne muito mais predicados do que Temer.
Está filiado ao DEM, parceiro histórico do PSDB, aliança que garantiu um dos mais profundos e selvagens processos de privatização, durante os anos de Fernando Henrique Cardoso. Além disso, é jovem – completou 47 anos no último dia 12 de junho –, com perspectivas de permanecer no poder até 1º de janeiro de 2022.
A conta é simples: com o afastamento de Temer, cada vez mais provável, ele permanecerá como interino na presidência da República por até 180 dias, período que o Supremo Tribunal Federal terá para julgar o, vá lá, presidente. Absolvido, o que é difícil, Temer voltaria. Condenado, ele vai cumprir pena – pela idade, pode pegar uma domiciliar, com tornozeleira, ou ir para a Papuda.
Maia, então, teria até 30 dias para, como presidente da Câmara, realizar eleição indireta para a escolha do presidente da República e vice até 31 de dezembro de 2018. Maia já tem em mãos um parecer jurídico que garante a ele o direito de se candidatar nessa eleição indireta.
Uma vez eleito, cumpriria o mandato que foi tirado de Dilma e – agora o que mais agrada os conspiradores remanescentes – poderia ser candidato à reeleição, em outubro de 2018, o que lhe daria mais 4 anos de mandato. Resumindo: Rodrigo pode assumir a presidência em agosto de 2017 e permanecer 5 anos e quatro meses no poder.
Não foi à toa que Tasso Jereissati, presidente em exercício do PSDB, disse que seu partido já está muito próximo do desembarque. O DEM não disse nada, mas nem é preciso. Rodrigo não é mais visto com Temer e, segundo o site Poder 360, líderes do partido, como o prefeito de Salvador, ACM Neto, se reuniram terça-feira na casa do presidente da Câmara para acertar a versão conservadora do “Fora, Temer”.
Para o golpe dentro do golpe ficar completo, só falta o PCdoB transformar em noivado o namoro que Maia e líderes do partido engataram. Maia aceitaria dar a Aldo Rebelo, que é seu amigo, a vaga de vice na eleição indireta que viria após o julgamento de Temer. O PCdoB, leal a Dilma até o último dia, daria a Maia o verniz que falta: a aparência de que tudo foi feito democraticamente.
O PCdoB, no entanto, não é a peça principal nesse xadrez político – Lula, que tem o maior faro político do País, já deve ter percebido e é por isso que, na posse de Gleisi Hoffman na presidência do PT, citou Rodrigo e deu a definição perfeita: “golpista é golpista”. Nesse tabuleiro, Rodrigo seria o adversário de Lula em 2018.
A peça principal é o que, genericamente, se chama de mercado. Foi com ele que Maia assumiu o compromisso, nas barbas de Temer, no fórum empresarial de 30 de maio. O presidente da Câmara disse:
“A agenda da Câmara, em sintonia com a do presidente Michel Temer, tem como foco o mercado, o setor privado. A Câmara vai manter a defesa da agenda do mercado”.
A “sintonia com Michel Temer” foi um detalhe, agora desprezível – assim como o objeto de seu suposto elogio. Maia fez o que pode ser comparado ao compromisso de Mário Covas em 1989, quando, a pedido da Globo, fez no Senado o discurso do choque de privatização.
Ou mesmo com a Carta ao Povo Brasileiro, de Lula.
Entre Covas e Lula, há uma distância política enorme, mas ambos trataram de tranquilizar eventuais forças opositoras.
Rodrigo fez o mesmo, especificando até onde pode ir, muito mais radical do que foram os compromissos de Covas e Lula: ele apresentou muita disposição para tirar direitos trabalhistas e ir fundo no ataque à previdência pública. E, claro, usou outros nomes para a carnificina: reformas.
Diz que é para atrair investimento, mas quem estava na plateia sabe que, com todos os encargos, a força de trabalho no Brasil é muito barata. O que ele promete mesmo é maximizar lucros.
O golpe dentro do golpe fez de Temer um pária.
Em todos os sentidos e para todas as classes sociais.
Quando Temer fala na necessidade de reformas, ninguém acredita.
É como se Fernandinho Beira-Mar estivesse falando na necessidade de acabar com o tráfico de drogas.
Já Maia, não.
Ele é capaz de iludir até o PCdoB.