Na quarta-feira (30), o ex-policial militar Ronnie Lessa pediu perdão às famílias da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, admitindo seu envolvimento no crime durante depoimento no Tribunal do Júri no Rio de Janeiro.
“Com absoluta sinceridade e arrependimento, pedir perdão às famílias do Anderson, da Marielle, à minha própria, à da dona Fernanda [Chaves, sobrevivente do atentado] e a toda sociedade pelos fatídicos atos que nos trazem aqui. Infelizmente não podemos voltar no tempo. Mas hoje eu faço o possível para amenizar essa angústia de todos, assumindo minha responsabilidade e trazendo à tona todos os personagens envolvidos nessa história, de cabo a rabo”, afirmou Lessa no interrogatório.
Em sua delação premiada, Lessa indicou como mandantes do crime os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, mencionando que ambos buscavam proteger interesses de grilagem de terras ao eliminar Marielle. Ele afirmou que o desejo de lucro com uma área na zona oeste, com possível rendimento de R$ 25 milhões, o cegou. “Era muita grana, fiquei cego com isso,” disse o ex-PM sobre sua motivação.
Delação de Lessa
O depoimento foi feito por videoconferência do Complexo Penitenciário de Tremembé, onde está preso desde que firmou colaboração com a Polícia Federal. Ele admitiu que a decisão de confessar o crime trouxe alívio.
“Tirei um peso das minhas costas confessando o crime, podendo dar uma continuidade a isso para amenizar essa angústia de todos, da sociedade inteira. Se eu puder amenizar isso, estou fazendo o máximo. Vou cumprir o meu papel até o final. Tenho certeza que a Justiça vai ser feita. Hoje é uma parte. Tenho certeza absoluta que ela vai ser feita no STF. Ninguém vai ficar de fora não. É da base ao topo dessa pirâmide, sem exceções. Ninguém vai se safar”, disse.
Presença de familiares de Marielle
A irmã de Marielle, ministra Anielle Franco, acompanhou o depoimento com a viúva Mônica Benício e a filha Luyara Franco, demonstrando descrença diante das palavras de Lessa. Também presente, Marcelo Freixo, presidente da Embratur e ex-assessor de Marielle.
Mônica Benício não conteve as lágrimas durante seu depoimento e chorou ao falar.
Monica Benício acabou testemunhar,muito emotiva.?
Juiza indaga aos advogados dos assassinos,se tinham perguntas não tinham e prestaram condolências, a Monica e juíza indaga se manteriam incomunicabilidade, “sem objeção” a juíza para Monica “está liberada Monica pode ir em paz” pic.twitter.com/DqiYTi90XM— •✘Posso falar em português? (@DEIANEVES) October 30, 2024
A vereadora Mônica Benício (PSOL), viúva de Marielle Franco, afirmou nesta quarta-feira (30) no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que "existe uma política antes e uma depois do assassinato" da vereadora do PSOL.
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Durante o depoimento, Lessa afirmou que o alvo era Marielle, mas reconheceu o risco assumido ao acertar Anderson. “Tentei concentrar no alvo, mas aquela munição era perfurante demais”, explicou, mencionando que usou uma arma que não era ideal para evitar danos a outras pessoas no carro.
Além de detalhar o crime, Lessa negou ser um matador de aluguel, como alegado pela Polícia Federal (PF). Questionado sobre o uso do aplicativo Confide, usado para comunicação com o ex-PM Élcio Queiroz, ele afirmou que a ferramenta era para conversas sigilosas e não exclusivamente para atos criminosos.
Familiares e amigos de Marielle reagiram negativamente ao depoimento, especialmente quando Lessa mencionou que a primeira proposta para o crime aconteceu em 2016 e envolvia inicialmente outro alvo, o ex-deputado Marcelo Freixo. Durante um intervalo, a filha de Marielle, Luyara, deixou a sala chorando.
Élcio Queiroz, também réu, declarou em seu interrogatório que soube da intenção do crime apenas ao entrar no carro, tentando dissuadir Lessa de executar o plano. “Meu objetivo era que ele abortasse, de alguma forma”, disse Queiroz.
Assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
A vereadora fluminense Marielle Franco (PSOL) foi assassinada em 14 de março de 2018, aos 38 anos, quando retornava para casa após uma reunião com mulheres negras na Lapa.
O crime ocorreu no Estácio, região central do Rio, enquanto Marielle seguia de carro para sua casa no bairro da Tijuca, na zona norte. Ela estava acompanhada pelo motorista Anderson Gomes, de 39 anos, que também foi morto no ataque, e pela assessora parlamentar Fernanda Chaves, de 43 anos, que sobreviveu.
Na rua Joaquim Palhares, próximo à Praça da Bandeira, um Chevrolet Cobalt prata emparelhou à direita do carro onde Marielle Franco estava. Um dos ocupantes efetuou nove disparos, acertando o vidro e a porta traseira direita do veículo. O carro percorreu alguns metros antes de parar, e os atiradores fugiram em seguida. Marielle foi atingida por três tiros na cabeça e um no pescoço, enquanto Anderson Gomes, o motorista, foi baleado três vezes nas costas, e ambos morreram na hora.
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