Eu tinha dito, alguns dias atrás, que já não havia nada que o STF pudesse fazer para melhorar sua imagem no golpe.
Mas sempre há o que piorar.
A intimação da ministra Rosa Weber a Dilma para que ela explique por que chama o golpe de golpe é um exemplo disso. Ela atendeu a um pedido de deputados golpistas inconformados por serem tratados pelo que são, golpistas.)
(Rosa, aliás, foi nomeada por Dilma, numa das várias demonstrações da inépcia suicida dos governos petistas em montar um STF à altura do título de supremo que carrega no nome.)
A resposta mais simples é: um impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. E as alegadas pedaladas fiscais, velhíssima prática orçamentária no Brasil, não é crime de responsabilidade.
Mas há muitas outras respostas para a questão obtusa posta por Rosa Weber.
Como respeitar um processo conduzido inteiramente por um psicopata vingativo como Eduardo Cunha?
Como respeitar um processo que recebeu na Câmara o sim de um bando de bufões corruptos que falavam em nome da família quadrangular e de outras asneiras, num espetáculo deprimente que transformou o Brasil em piada mundial?
Como respeitar um processo no qual o meliante que o conduzia só foi afastado por um colega de Rosa Weber – Teori Tartaruga Zavascki – depois que o crime foi consumado?
Como respeitar um processo ao fim do qual o símbolo maior da corrupção no Brasil, Eduardo Cunha, demonstra sua potente influência sobre Temer com a nomeação de gente sua para postos-chave?
Como respeitar um processo que nasceu no mesmo dia em que saíram os resultados da vitória de Dilma, e cujos pretextos foram mudando ao sabor das circunstâncias?
Como respeitar um processo ao fim do qual 54 milhões de votos que elegeram um programa progressista são incinerados para que seja posta em ação uma plataforma de direita derrotada nas urnas?
Como respeitar um processo ao longo do qual o STF de Rosa Weber julga coisas como pipoca no cinema, mas não encontra tempo para julgar o pedido de afastamento de Cunha diante de provas devastadoras?
Essa lista poderia ir muito adiante.
A ministra Rosa Weber poderia estender sua pergunta descabida a todo o mundo. A comunidade internacional entendeu, maciçamente, que foi golpe.
Em sua intimação, ela se junta a outro togado de escassas virtudes, se alguma: Dias Toffoli.
Num de seus espasmos pró-golpe publicados na Globo, Toffoli disse que quem fala em golpe “ofende” as instituições brasileiras.
Ora, ora, ora.
É o inverso. São as “instituições” que se expõem ao escárnio quando acobertam crimes de lesa democracia como este.
A melhor resposta a Toffoli veio do escritor Marcelo Rubens Paiva, nas redes sociais. “Nossas instituições são uma merda. Pronto: ofendi.”
As palavras brutalmente sinceras e corretas de Rubens Paiva se aplicam, perfeitamente, à atitude de Rosa Weber.