Há pouco tempo, Rosângela Moro desbloqueou sua conta no Instagram. Foi surpreendente porque, no final do ano passado, ela havia retirado do ar a página do Facebook destinada a idolatrar o marido, o juiz Sergio Moro. E passou a fazer postagens no Instagram, acessível apenas aos amigos.
A saída da rede aconteceu ao mesmo tempo em que o advogado Rodrigo Tacla Durán prestou depoimento na Câmara dos Deputados, em que acusou o amigo dela, e antigo sócio, de tentar lhe vender facilidades em acordo de delação premiada.
A saída na rede, no entanto, foi explicada como o cumprimento de uma missão. “E chegada a hora da despedida. EuMoroComEle vai sair da rede. A página cumpriu seu papel”, disse ela, em um texto de agradecimento, acompanhado de um vídeo em que ela termina com uma piscadela para o público.
Ao ver as postagens mais recentes de Rosângela, no entanto, se entende por que ela abriu o Instagram. Rosângela tem usado a rede social para passar recado a políticos e dar respostas em situações que, direta ou indiretamente, envolvem o marido.
A última delas, na sexta-feira, foi a imagem de uma caixa aberta, sem nenhuma palavra. Os seguidores trataram de decifrar: “Ciro Gomes é louco!”, disse um deles, e outros disseram que os políticos é que têm de ir para a caixinha.
A postagem da caixa foi uma referência à entrevista que Ciro Gomes deu a uma tevê do Maranhão, em que disse que a Lula terá chance de sair da prisão se ele se eleger presidente:
“Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”.
Rosângela há havia feito outra postagem enigmática, que os seguidores dela decifraram. Foi logo depois do corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu intimar Moro para dar explicações sobre a interferência dele, mesmo em férias, para evitar o cumprimento do alvará de soltura concedido em favor de Lula pelo desembargador Rogério Favreto. Rosângela postou uma imagem do Patolino fazendo biquinho, e a frase: “Gostei não”.
Rosângela já havia feito uma postagem em referência à forma como Lula se expressou, em um depoimento ao juiz Sergio Moro. Em certos momentos, Lula ficou com o dedo em riste, e Rosângela comentou: “Dedo em riste é, não apenas agressivo, prepotente e ditatorial, mas também símbolo da falta de humildade. Fica a dica!” (sic).
Quando Lula foi condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4a. Região, Rosângela não perdeu a chance e foi buscar uma frase do século XIX do escritor francês Jules Renard para tripudiar:
“A liberdade tem limites que a Justiça impõe”.
Rosângela também saiu em defesa do amigo — e da própria família — quando Carlos Zucolotto Júnior foi denunciado por Rodrigo Tacla Durán:
“Sim! É meu amigo. Foi meu sócio, é meu compadre, é parceiro e é do bem. O tempo esclarece tudo! Enquanto isso seguimos na nossa amizade e de nossas famílias, enlouquecendo mentes criativas e destrutivas. Zucolotto faz o melhor churrasco da vida toda.”
Como qualquer cidadão, Rosângela tem o direito de se expressar e defender quem quiser, mas, com seu estilo agressivo, fica sempre a dúvida se ela age por ela própria ou também pelo marido — que, para todos os efeitos, é juiz e, nessa condição, recomenda a prudência que preservasse a discrição e, mais importante, a imagem de imparcialidade.
Não é de hoje que Rosângela coloca Moro em situação delicada. Quando ele era juiz em Cascavel, no interior do Paraná, sucedendo a João Pedro Gebran Neto, hoje desembargador e relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal, Moro teve que responder a uma denúncia por favorecer a mulher, advogada na cidade.
Rosângela divulgou como telefone do escritório dela o número da vara federal onde Moro dava expediente. O procurador Celso Três atuava na cidade e disse que o juiz teve que prestar esclarecimento, e acabou convencendo que tudo não passou de um equívoco.
O caso, no entanto, até hoje é alvo de comentários sobre um suposto direcionamento de processos para escritórios da mulher de Moro.
No Intagram, Rosângela continua provocando constrangimento a quem imagina que o juiz deva manter um comportamento de extrema sobriedade, para manter o respeito daqueles que estão sob sua jurisdição.
Como se fosse uma blogueira de moda ou gastronomia, posta foto dela com marido e amigos em restaurante e marca a conta do estabelecimento, para que todos saibam onde foi o jantar.
No caso de blogueiros, é uma tática para não pagar a conta e, às vezes, até levantar algum dinheiro. Tem outras postagens com marcas de sapato, bijuterias finas e lojas.
Nas fotos mais pessoais, Rosângela mostrou que reuniu amigos para ver o marido no programa Roda Viva, em clima de Copa do Mundo.
Tem foto de filhos com o rosto riscado — “mamãe protege”, diz em uma postagem. Mas os adolescentes podem ser vistos em outras fotos, sem nenhum sinal de adulteração.
Deve ser constrangedor para os dois aparecerem em fotos da família com o rosto rabiscado, principalmente porque é uma atitude inútil, uma vez que, no mesmo Instagram, em postagens um pouco mais antigas, eles têm a fisionomia exposta.
Rosângela Moro já contou em reportagens para publicações amigas que tem uma profissional que cuida da sua imagem. Se é verdade, ela tem falhado, já que, exceto para seu público mais fiel, Rosângela tem se exposto além do limite.
Se pretende ser a Kim Kardashian do Paraná, deveria pedir para o marido trocar de ofício.
Publicidade em demasia, ainda que feita pela esposa, corrompe o ideal de justiça. Moro ficaria melhor como político.