Por Estael Sias
A MetSul Meteorologia alerta que um novo episódio de chuva extrema vai atingir o Rio Grande do Sul nesta semana. A projeção da MetSul é que os acumulados sejam excessivos em áreas do Centro, do Oeste e o Sul do território gaúcho com marcas que em apenas três a quatro dias de precipitação devem atingir entre a média e o dobro da média histórica de precipitação do mês inteiro.
Este será o terceiro episódio de chuva excessiva no Rio Grande do Sul neste mês, marcado até agora por chuva com volumes muito acima do normal no estado gaúcho com saldo trágico que chega a 42 mortos em consequência das precipitações extremas e absolutamente incomuns, embora previstas, do primeiro evento de chuva excessiva.
No primeiro episódio, que teve seu pico entre os dias 3 e 4, acumulados de chuva de 200 mm a 400 mm atingiram grande parte da Metade Norte gaúcha. Estação particular chegou a anotar 390 mm na região de Passo Fundo.
A estação oficial do Instituto Nacional de Meteorologia em Passo Fundo anotou o maior volume em 24 horas para o mês de setembro desde o começo das medições em 1913 com 164,4 mm até 9h do dia 4. O mesmo ocorreu com a estação de Cruz Alta, com dados desde 1912, que registro 160,8 mm em 24 horas até 9h do dia 4.
No segundo episódio, no dia 7 de setembro, volumes excessivamente altos de chuva atingiram cidades do Sul gaúcho, de parte do Oeste e da Campanha. Pelotas e Rio Grande superaram suas médias históricas de precipitação em horas, o que levou a enchentes também na Metade Sul gaúcha.
Esta sucessão de eventos extremos de chuva está dentro do que pode se esperar sob um evento de El Niño que está se intensificando e começa a adentrar o território de forte intensidade. Por meses se alertou que a chuva aumentaria muito no Rio Grande do Sul no final do inverno e na primavera com episódios extremos de precipitação, enchentes e tempestades frequentes.
Saiba o que vai acontecer dia a dia e por região
O novo episódio de instabilidade que vai atingir o Rio Grande do Sul tem alguma complexidade e pode ser divido, para melhor compreensão do que vai ocorrer, em quatro momentos distintos. O cenário sinótico para este novo evento de chuva excessiva envolve frente fria, áreas de baixa pressão e um ciclone intenso no Atlântico Sul.
No primeiro momento, uma frente fria alcança o Rio Grande do Sul. O sol aparece em todo o estado nesta segunda-feira (11) e o ingresso de ar quente pela condição pré-frontal traz muito calor para os gaúchos com máximas à tarde de 31ºC a 34ºC em muitas cidades e até ao redor de 35ºC em alguns pontos.
No final do dia, frente fria alcança o Oeste e o Sul gaúcho com chuva forte e temporais com raios e risco de granizo e/ou vento forte em alguns pontos. Esta frente vai estar associada a um ciclone em intensificação no Leste da Argentina que se tornará intenso ao se afastar do continente, sem jamais se aproximar ou chegar perto do Rio Grande do Sul.
No segundo momento, por sua vez, na terça-feira (12), a frente passa à condição de semi-estacionária no Rio Grande do Sul e vai estar bloqueada por ar mais seco e quente sobre o Brasil com um áreas de alta pressão na Região Sudeste.
Chove muito durante a terça em pontos do Oeste e da Metade Sul, podendo ocorrer temporais com granizo e vento, com a instabilidade alcançando pontos do Centro do estado até o fim do dia. No Norte do estado, onde o dia é de sol, a temperatura atinge 30ºC à tarde enquanto na mesma hora estará fazendo 10ºC a 13ºC em cidades da Metade Sul.
Na quarta-feira (13), no terceiro momento, uma área de baixa pressão avança do Nordeste da Argentina e do Paraguai para o Rio Grande do Sul, onde se aprofunda, voltando a reforçar a chuva sobre o estado com pancadas localmente fortes a torrenciais em diversas regiões e elevado risco de temporais isolados com granizo e rajadas de vento forte.
Já entre quinta-feira (14) e sexta-feira (15), no quarto momento, o centro de baixa pressão migra para o Atlântico, onde se transforma em ciclone extratropical, e impulsiona uma frente fria com chuva e temporais isolados para Santa Catarina, Paraná, parte do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil.
Este ciclone mais perto da costa do Sul do Brasil, cujo posicionamento os modelos discrepam ainda em suas projeções, impulsionará ar mais frio de trajetória continental para o Sul e o Centro-Oeste do Brasil com queda acentuada da temperatura a partir de um centro de alta pressão continental no Norte da Argentina. A sua circulação de umidade será responsável por trazer chuva forte e volumosa ainda na quinta no Leste e no Nordeste gaúcho.
O ar frio ingressa entre terça e quinta-feira no Rio Grande do Sul, inicialmente pelo Oeste e o Sul, e de quarta para a quinta na maioria das regiões, acompanhado de rajadas de vento do quadrante Sul que em vários pontos devem ficar entre 50 km/h e 70 km/h, mas que, isoladamente, podem ser superiores.
Na sexta-feira (15), ar mais seco e frio toma conta do Rio Grande do Sul e a instabilidade já deve estar afastada do estado, sobre o Oceano Atlântico e o Sudeste do Brasil, à medida que o ciclone se afasta em alto mar e a frente fria associada se desloca pela Região Sudeste. Será o começo de uma pequena sequência de dias com a presença do sol no estado gaúcho.
Veja onde vai ter mais chuva
Todos os modelos numéricos analisados pela MetSul Meteorologia indicam que os volumes de chuva mais elevados neste episódio de precipitação tendem a se concentrar no Oeste e no Sul do estado, podendo se estender ao Centro do estado. Os mapas abaixo mostram as projeções de chuva dos modelos europeu (ECMWF), alemão (Icon) e canadense (CMC) para os próximos sete dias.
A previsão da MetSul Meteorologia aponta para volumes de chuva entre esta segunda e a quinta de 100 mm a 200 mm em muitas áreas do Sul e do Oeste do estado. Haverá pontos em que as precipitações devem exceder os 200 mm e não são descartadas marcas isoladas de 250 mm a 300 mm.
Isso significa que os acumulados de chuva apenas entre segunda e quinta em várias cidades do Oeste e do Sul do Rio Grande do Sul podem atingir valores entre a média e o dobro da média do mês inteiro. As médias históricas do mês de setembro, de acordo com a série histórica 1991-2020, são de 97,0 mm em Santa Vitória do Palmar, 110,8 mm em Rio Grande, 128,7 mm em Pelotas, 155,3 mm em Santa Maria e 160,4 mm em Encruzilhada do Sul.
Enfatizamos que sob condições de baixa pressão e sistemas de caráter semi-estacionário, como nesta semana, a faixa de chuva volumosa pode variar 50 a 100 quilômetros mais para o Sul ou o Norte que o indicado pelos modelos, assim que incluímos a faixa central do estado na zona de risco. Os dados de hoje não indicam chuva extrema nas nascentes das bacias que cortam os vales e que estão no Nordeste do estado (Serra e Aparados), embora deve chover forte nestas regiões, especialmente entre quarta e quinta.
Alagamentos, inundações e mais enchentes
Os volumes de chuva desta semana serão suficientemente altos para provocar alagamentos em áreas urbanas e rurais, além de inundações. Volumes excessivos em poucas horas trazem ainda o risco de inundações repentinas localizadas.
A MetSul Meteorologia adverte ainda que os excessivos acumulados que projeta devem agravar a condição hidrológica dos rios que já passam por cheias e podem gerar novas cheias de rios com quadro de enchentes. Os rios que preocupam são o Quaraí, Ibirapuitã, Jaguarão, Piratini e Camaquã, no Oeste e no Sul. No Centro do estado, atenção maior com os rios Ibicuí e Jacuí.
Chamamos atenção ainda que os excessivos acumulados de chuva que se somam ao registrados dias atrás podem gerar o extravasamento de alguns açudes. Preocupa que esta chuva volumosa coincidirá com a Lagoa dos Patos com volume alto em Pelotas e Rio Grande, o que aumenta o potencial de alagamentos nestas cidades. Os canais em Pelotas, já altos, tendem a ter aumento ainda maior. O vento por vezes forte, com a lagoa alta, é outro fator que pode agravar a condição para alagamentos.
Algumas estradas, particularmente municipais e rurais, devem se tornar intransitáveis com prováveis trechos e pontilhões cobertos pela água. Com a perspectiva de forte correnteza, trechos alagados devem se terminantemente evitados por motoristas sob perigo de acidentes fatais.
Publicado originalmente no MetSul Meteorologia