De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, o governo russo está orquestrando uma extensa campanha de desinformação na América Latina. Esta estratégia do Kremlin visa explorar seus contatos com veículos de imprensa na região, abrangendo países como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, México, Venezuela, Brasil, Equador, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai, entre outros.
O objetivo principal é dissimular a origem da propaganda e da desinformação, fazendo-a parecer orgânica aos olhos do público latino-americano, com o propósito de minar o apoio à Ucrânia e disseminar sentimentos anti-EUA e anti-OTAN.
A campanha de manipulação de informações na América Latina está sendo financiada e coordenada pela Agência de Design Social (SDA), o Instituto para o Desenvolvimento da Internet e a Structura.
Estas são empresas especializadas em “influence-for-hire”, dotadas de profundo conhecimento técnico, experiência na exploração de ambientes de informação abertos e um histórico de disseminação de desinformação e propaganda para promover os interesses estratégicos russos na região.
Conforme apontado pela Avaliação Anual de Ameaças da Comunidade de Inteligência dos EUA, os agentes de influência russos têm aprimorado suas táticas para ocultar sua verdadeira identidade e disseminar suas mensagens através de uma ampla rede de indivíduos, organizações e sites intermediários que aparentam ser fontes de notícias independentes.
Moscou cria histórias originais ou amplifica discursos populares ou divisivos pré-existentes, usando uma rede de agentes de meios de comunicação estatais, intermediários e influenciadores de mídias sociais. Isso pode envolver a divulgação de informações falsas e a amplificação de teorias da conspiração em benefício dos esforços de influência russos.
Governo russo financia campanha de desinformação na América Latina a fim aproveitar contatos com imprensa no ?? e outros países para realizar uma campanha de manipulação de informação. Entenda melhor. https://t.co/odM6smK96z
— Embaixada EUA Brasil (@EmbaixadaEUA) November 8, 2023
Principais agentes envolvidos:
Ilya Gambashidze, líder da Social Design Agency, é o mentor de um grupo de agentes influenciadores que visam conduzir uma campanha de manipulação de informação na América Latina.
Além de Gambashidze, outros indivíduos incluem Andrey Perla, diretor do projeto SDA, Nikolay Tupikin, CEO da Structura, e o jornalista pró-Kremlin Oleg Yasinskiy (também conhecido como Yasinsky).
Mecânica da campanha:
A estratégia envolve a formação de um grupo de editores em um país latino-americano, provavelmente no Chile, composto por indivíduos locais, jornalistas e líderes de opinião de vários países da região.
Equipes na Rússia são responsáveis por criar o conteúdo e enviá-lo para a equipe editorial na América Latina para revisão, edição e publicação na mídia local. Isso garante que o conteúdo pró-Kremlin criado na Rússia pareça local, com a aparência de autenticidade.
Editores baseados em Moscou, proficientes na língua espanhola, desempenham um papel essencial na campanha, muitas vezes usando pseudônimos para manter a aparência de autenticidade.
Yasinskiy mantém uma extensa rede de jornalistas e meios de comunicação de língua espanhola e portuguesa para difundir mensagens pró-Rússia, estabelecendo parcerias com veículos de imprensa de língua espanhola, como Pressenza e El Ciudadano, e outros meios de comunicação para ampliar a divulgação.
Influência russa oculta:
Os temas e métricas de sucesso da campanha são desenvolvidos em colaboração com o governo russo, com Gambashidze, Perla e Tupikin desempenhando um papel de liderança.
Controlar a narrativa pró-Kremlin é crucial, com Tupikin garantindo que os temas estejam alinhados com as prioridades do Kremlin.
Os temas centram-se em persuadir o público latino-americano de que a guerra da Rússia contra a Ucrânia é justa e que eles podem se unir à Rússia para combater o neocolonialismo.
Esses temas coincidem com a narrativa falsa da Rússia de ser um defensor contra a neocolonização, quando, na realidade, está envolvida em práticas neocoloniais e neoimperialistas em sua guerra contra a Ucrânia e exploração de recursos na África.
As embaixadas russas na América Latina colaboram com veículos de imprensa financiados pelo Estado para amplificar as mensagens pró-Kremlin e desenvolver parcerias entre veículos de comunicação russos, estações de rádio locais, jornalistas e embaixadas de países pró-Moscou na região.